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segunda-feira, 18 de abril de 2016

CONSIDERAÇÕES FINAIS NIOAQUE SÉCULO XIX



CAPÍTULO XXI




Chegando ao final deste esboço histórico sobre o Município  de Nioaque, espero que tenha ajudado a ampliar os seus conhecimentos e abrindo a mente para novos horizontes.

Na história existe em torno do pesquisador, através de indagações sobre as causas e conseqüências, leva-me a dizer que não encontraremos a porta de saída.

A História, quanto mais se escreve, reescreve, sempre se descobre algo novo ou então visto sobre outro ângulo, conforme a posição em que o historiador se coloca.

A posição por mim tomada, foi a de colocar apenas os fatos históricos, ordenados, evitando tomar partido crítico dos acontecimentos. Deste modo, fica ao leitor, tirar o seu posicionamento com relação aos fatos de cada Capítulo.

No desfecho final dos fatos alguns elementos analíticos do Século XIX de Nioaque.

Renascimento de Nioaque:

Não podemos incriminar as condutas dos nossos antepassados, que deveriam ter procedido desta ou daquela maneira, isto, porque, certamente, no futuro, os nossos filhos e netos, poderão fazer o mesmo conosco, não aprovando muitas das atitudes que hoje justificamos necessárias e em nome do progresso,  das nossas ambições pessoais e das conjunturas sociais, políticas e econômicas.

Chamamos de renascimento porque com advento da Guerra do Paraguai e as duas ocupações sucessivas do povoamento de Nioaque, não restou uma só construção e os moradores da região abandonaram as suas propriedades.

No entanto, um fato que dificulta a reconstrução histórica, é a escassez de documentos concretos,objetos e escritos pelos homens do passado.

Crítico sempre foi a conservação de papéis seculares e  as informações conservadas através das tradições orais, misturam-se no tempo, entre o presente e o passado, o real e imaginário.

Quando acabou definitivamente a Guerra em 1.º de Março de 1870, com a Morte de Lópes, a ocupação de Nioaque não mais se faziam presente os paraguaios, e muitos dos antigos moradores já vinham tentando reaver os seus pertences, abandonados e perdidos.

Na verdade, era preciso recomeçar. Nada havia sobrado do antigo Povoado, das propriedades, as que não foram transferidas, abandonadas, foram saqueadas e ocupadas pela vegetação que sobreviveu a tempestade da Guerra e por grupos de aventureiros que foram ocupando parte das propriedades dos antigos donos.

 Assim, foram sendo aos poucos ocupada por seus ex-donos, herdeiros, famílias de aventureiros, vindo de todos os rincões: Paraguai, Itália, Espanha, Portugal, Argentina, do Norte da Província  e do interior do Império do Brasil.

Prepara-se Nioaque para mais uma arrancada rumo ao desenvolvimento.

De fato, foram três décadas – 1870-1900, marcado pelo mais profundo desenvolvimento, renascendo um Sul de Mato Grosso novo, preenchendo todos os espaços vazios com fazendas e núcleos populares.

O trauma da Guerra, violência, ódio, dor, medo, terror, insegurança, permanecem na memória das almas sobreviventes até mais de uma geração, pois foi assim, que cresceu o novo Povoado: 

“Terra de Bravos e Berço de Heróis”.

A bravura segue no sangue dos que lutam incessantemente e  o herói surge, nem sempre no mais intelectual e do erudito, mas justiceiro, no valentão, que intimida, ameaça e às vezes aterroriza seus compatriotas, que descarrega a ira fazendo valer a lei do mais forte, o poder do gatilho no seu disparo ou espada que penetra com seu gume dilacerando.

A população sobrevivente, as que trazem ainda consigo a esperança, possuem no seu rosto a estampa da dor e do sofrimento.

A mesma angústia retrata entre o otimismo e o pessimismo no fruto do trabalho, na  serenidade do viver. Muitas se fazem perecer através do fatalismo: Deus dará! Foi Deus que quis!

Nenhuma sociedade se processa de maneira estática, está sempre em mudanças, quer em ascensão ou em declínio.

As mudanças sociais, morais, políticas, religiosas, econômicas e culturais que ocorreram na remanescente Nioaque, processaram em cadeia de fatos dentro da conjuntura da Província, depois Estado de Mato Grosso e de Império e posteriormente a Forma Republicana e um sistema de Governo Presidencialista. Transformações que ocorreram de modo lento, mas contínuas, não na rapidez dos tempos atuais, onde o progresso tecnológico e científico, corre na frente do próprio tempo.

Foi a sucessividade de fatos, que em apenas três décadas, Nioaque atinge o auge – 1870/1900, conquistando definitivamente a sua emancipação política. Se considerássemos, que em 1870  de Nioaque (cidade) restava o local e algumas ruínas queimadas, e vinte anos depois já era Município e quatro depois, sede de Comarca, para uma época distante onde as dificuldades possuíam todas as dimensões, somente por um ato de desenvolvimento intensivo dos seus habitantes, possibilitou tal crescimento e reconstrução.

Há de se relembrar, que transcorrido dois anos do término da Guerra, novamente foi transferido o Comando e Quartel do Distrito Militar de Guarnição com a Fronteira com o Paraguai, que numa luta desesperada dos seus comandantes, na tentativa de ajudar a reconstruir o povoado, ainda incerto quanto ao seu futuro, permanecerá um tanto estagnado, em face de todas as dificuldades existentes na região: comunicação, transporte, atividades econômicas. Não havia absolutamente sobrado nada, todos os núcleos populacionais haviam sido destruídos: Miranda, Corumbá, Albuquerque, Coxim, Coimbra, Nioaque, Colônias de Miranda e dos Dourados, sede das fazendas. Documentações extraviadas e destruídas, pessoais, oficiais, títulos das propriedades.

A região ficou, sem comércio sem recursos, sem gado, sem centro político administrativo e Judiciário. Este processo indefinido, permanecerá em Nioaque, até o ano de 1877, quando o então Presidente da Província, resolve dar o primeiro passo pra o desenvolvimento e emancipação de Nioaque, quando elevado à categoria de Freguesia, recebendo posto de correios, distritos policial, Juizes de Paz, Paróquia de Santa Rita.

As autoridades chegam a mudar o nome do Povoado de “Nioac” para o de – Levergeria – criando mecanismo que estimulassem a marcha do progresso e amenizassem a dor da Guerra. A denominação Levergeria tinha por objetivos: homenagem a Augusto Leverger e conotação de tempos modernos, de renascimento,  desenvolvimento, muito embora, em 1883, retorna a antiga denominação – Nioac; para retornar novamente a denominação de Levergeria em 1890, deixando transparecer mais uma vez o sentido de novo; no entanto, em 1892, retoma a denominação primitiva – Nioac.

Teria Nioaque sobrevivido após a Guerra se não fosse o aquartelamento militar?

Teria conquistado sua emancipação política em apenas vinte anos?

Teria conquistado a importância social, política, econômica na região sul de Mato Grosso sem a presença da Unidade Militar?

Certamente não. Não teria tido infra-estrutura para reagir diante dos imensos obstáculos.

Quando saia Nioaque dos horrores da Guerra, sob tais escombros permaneceu por mais de cinco anos, não restando nada do seu povoado, exceto as ruínas que sobreviveram aos incêndios 1866/1867. Foi necessária a presença de uma força que injetasse o ânimo e operacionalizasse a lei, a ordem, a segurança, não apenas de Nioaque, mas de toda a fronteira com a vizinha República do Paraguai.

Assim, quando foi transferido para Nioaque, a residência do Comando do Distrito Militar, através do 7º Regimento de Cavalaria Ligeira, os homens que habitavam Nioaque, encontravam-se apáticos, causada pela dor da Guerra e tormentos de vida.

A finalidade da brusca transferência do contingente Militar de Cuiabá, para Miranda e desta para Nioaque, povoado que  se encontrava totalmente indeciso, era o de guarnecer as nossas fronteiras, reprimir os contrabandos e sobre tudo cooperar no reerguimento do Povoado, cujo progresso a Guerra havia atrofiado por completo.

Nos dizeres de Hélio Serejo, em        O Homem Mau de Nioaque: “Direta ou indiretamente, influenciaram em tudo, revelava a vida pública e privada do cidadão, na escolha dos empregos públicos, nas eleições, nos festejos, nos bailes, nas disputas, nos delitos, nos crimes, etc. Via-se na mão protetora ou perseguidora do Comandante do Regimento, com os aplausos de uma parte do povo que gozava a sua simpatia”.

Acontecia na Freguesia de Nioaque, a qual quando lhe apara a sorte de ter  no seu seio um comandante digno de toda a consideração e amante de progresso e da civilização, sobejas à vontade dos que representam o povo e contrariando, somente buscava o adiamento  material, como se fosse fácil obtê-lo, se o verdadeiro progresso moral que é a base e o sustento de todo o progresso social.

Cresceu assim a comunidade civil, geralmente omissa ou submissa, conjugando dos interesses e esforços na   força do Regimento.

Inegavelmente que do renascimento a emancipação política de Nioaque, a presença do 7º Regimento e oficialato, influenciaram decisivamente nos rumos dados  na marcha do progresso da renascentoura Nioaque. Normalmente quem fazia os contatos com os governantes da Capital, era o próprio comandante que expedia uma correspondência, encaminhando ou solicitando algo.

Possuía os homens das armas e também a dos eruditos,  possuía infra-estrutura para manter homens aglomerados e disciplinado, oferecia assistência básica: lei, segurança, ordem, saúde, religião, dinheiro, consumo da produção local, realimentando as transações comerciais, aquisição de propriedades,   bens imóveis, que os manteve radicados na própria região por longos anos.

Uma questão Psicológica: quem possui o poder, a força, a riqueza, possui condições suficientes para manipular os órgãos públicos e influenciar e até determinar  a direção que deverá ser tomada por esta ou aquela instituição política, econômica, religiosa e cultural.

As influências foram inegáveis, no entanto, as contribuições são incontestáveis.
Percebe-se assim, que escrever as influências militares sobre a vida de Nioaque neste século XIX, historicamente é impossível enumerar todas. Por meio  das correspondências, depoimentos, narrações que se encontram inclusas algumas entre os Capítulos deste Trabalho, registramos as mais significativas:
  • ¨       Origem da cidade;
  • ¨       No povoamento;
  • ¨       Na justiça, lei, ordem, segurança, guarnição, repressão;
  • ¨       Guerra do Paraguai;
  • ¨       Nas atividades sociais, religiosas e culturais;
  • ¨       Nas atividades políticas e econômicas;
  • ¨       No caminho da consolidação Republicana;
  • ¨       Na emancipação política e consolidação do Poder Judiciário;
  • ¨       Nas atividades educacionais.

Em resumo, Nioaque nasceu e cresceu durante este século XIX sempre influenciado pelas decisões, presença dos militares das Unidades aqui relacionadas.


Pode-se dizer que Nioaque é fruto do Regime Militar, prova-se, quando esta Unidade (7º Regimento) foi perdendo o seu  espaço de ação e a retirada para Bela Vista, o Povoado, a cidade de Nioaque entrou em apatia e sua decadência foi acelerada. Bela Vista de simples Distrito de Nioaque, passa a categoria de Município em 1908, pouco depois da transferência do quartel.



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