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domingo, 10 de abril de 2016

GUERRA DO PARAGUAI - 4 - CHEGADA DAS TROPAS EXPEDICIONÁRIAS À MATO GROSSO


ABORDAGEM - 4


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5.3 CHEGADA À NIOAQUE DAS TROPAS EXPEDICIONÁRIAS 1867
   Operações Militares no Sul da Província de Mato Grosso


Desenho inédito do Visconde de Taunay retratando o Quartel na Vila de Miranda  (entre setembro e dezembro de 1866) - Na parte superior, em francês: "O fogo colocado pelos paraguaios no interior da construção não se propagou a toda ela por causa de uma tempestade que desabou no dia seguinte a saída das forças inimigas. As árvores do último plano, margeiam o Rio Miranda à umas cem braças mais ou menos do quartel". A seguir, em baixo, em português: "Quartel de Miranda - Edificado no lugar da antiga estacada, a que chamavam de forte. Bons prédios acham-se todos destruídos pelo fogo: a vila oferece aspecto desolador".  Texto imagem http://www.retiradalaguna.hpg.ig.com.br/ 18.12.2004

5.3.1. Chegada em Nioaque da Coluna Expedicionária comandada pelo  Coronel Carlos Moraes Camisão


Depois de quase dois anos  da nossa região que se encontrava sob o domínio paraguaio, em abril de 1865, com a finalidade de socorrer as tropas estacionadas em Mato Grosso, Cuiabá e Santana do Paranaíba, partiu de Santos, São Paulo uma expedição de 600 homens, acrescida  principalmente de voluntários do Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás, Paraná, Minas Gerais  para ocuparem posição em Nioaque no dia 24 de Janeiro de 1867, daí os dois anos.

            Este Corpo de Artilharia, em junho de 1865 chegou na cidade de Uberaba, onde foram incorporados mais 1200 homens de Minas Gerais.   Com um efetivo de aproximadamente 2500 homens, rumou para Mato Grosso.  A princípio, o destino era Cuiabá. No entanto, no meio de caminho, receberam ordens para seguir para a Vila de Miranda.   Na Freguesia de Herculânea, (atual Cidade de Coxim)  ficaram retidos  por causa das fortes   chuvas e inundações, permanecendo até julho de 1866.
           

Igreja de Coxim. Imagem extraída do Livro A Epopea Da Laguna
Lobo Vianna - Rio De Janeiro 1938 Impressa Militar.


Em Miranda havia uma guarnição militar paraguaia, que abandonaram-na com a aproximação das tropas brasileira a 17 de setembro do mesmo ano.   O efetivo brasileiro, já se encontrava reduzido a 2000 combatentes, o comandante, Coronel Enéas Galvão, morrera, passando o comando ao Coronel Camisão.





 Vila de Miranda, e o Rio em 1867. imagem extraída do Livro A Epopea Da Laguna Lobo Vianna - Rio De Janeiro 1938. Impressa Militar.

            Em 31 de dezembro de 1866, uniu-se em Miranda   Coluna comandada pelo Coronel Camisão com a tropa  do 1º Corpo de Cavalaria, que anterior à ocupação paraguaia, combateram no Desbarrancado  e agora sob o comando do Capitão Pedro José Rufino, retornaria a Nioaque e faria parte da expedição pelo Apa e Laguna, escrevendo sua própria história.

            Com a morte do coronel Enéas Galvão, assume o comando dos desventurados soldados que só mesmo o profundo sentimento de disciplina pudera até então se manter em forma, o Coronel Carlos Moraes Camisão, que até então era o comandante do 2º Batalhão de Artilharia, sediado na Capital da Província, a 1º de janeiro de 1867.



Ten. Cel. em Comissão Antônio Enéas Gustavo Galvão
Cmt. 17BVP

No dia 11 de janeiro, o comandante deu ordens para a retirada da Vila de Miranda30 rumando para Nioaque.   O levantamento da comissão de Engenheiros e da Junta Médica, levou-os a abandonar o local.

            Visconde de Taunay retrata melhor a situação  é Miranda quase inabitável, rodeada como se acha e numa extensão considerável  de depressões, que a menor chuva, num instante inunda, até mesmo na melhor estação do ano e que os raios solares, com  a mesma intensidade enxugam.   Privada de boa água, pois a do Miranda é sempre agitada e lodosa.  A disposição do terreno oferecia ali, aliás, nenhuma das condições militares, as quais em rigor, não poderiam ser  consideradas higiênicas.    E, com efeito, ao longo de um caudal, acessível  as  grandes embarcações, estendendo-se às margens uniformemente baixas  a que tiram toda a segurança, estradas abertas.    Estava Miranda em ruínas, quando nossas tropas ali chegaram, ao partirem haviam os paraguaios incendiada.

            A cidade, então povoado de Nioaque, embora devastada pelo inimigo, é escolhida para base das Operações, em vista de se encontrar em zona salubre e de se tratar de posição militarmente estratégica.

Foi assim, que o comandante da coluna, Coronel Camisão, enviou imediatamente para Nioaque, dois membros da Comissão de Engenheiros, Cantão Roxo e Alfredo Escragnolle Taunay, um grupo de soldados e dez a quinze índios Terenas, a fim de preparar ali acampamentos, tomando ao mesmo tempo algumas disposições relativas à recepção  de enfermos e ao armazenamento das munições de guerra e de boca, bem como examinar as estradas e o local.

            Nos dizeres de Taunay, o que  esses homens de guerra pediam era clima salubre, que os revigorassem em condições de agir e estes iam encontra-lo em Nioaque, 210 km ao Sudoeste de Miranda.

            Extrato do trecho de uma carta de Taunay31, relatando a chegada a Nioaque da comissão de Engenheiros:

            “Nioac 26 de janeiro de 1867

            ... gastamos na viagem 12 dias por irmos construindo curais, nos pousos marcados pela força e chegamos a Nioac há mais de 14 dias, os primeiros que ocupávamos em nome do Brasil o ponto abandonado em agosto pelos paraguaios, eu e Cantão Carneiro Leão, filho de Minas Gerais e ótimo amigo de Cantão Roxo e uma turma de soldados, dez a quinze índios terenas.         

            Tratamos logo de dar empreendimento às ordens trazidas.    Continuávamos sendo visitados por patrulhas paraguaias, se tivessem eles desconfiados, teríamos sidos pressa fácil”.

            Ainda em Miranda, nova organização dera ao corpo de Tropas de Exército anteriormente dividida em duas Brigadas, cada qual composta de três Corpos, mas tanto uma quanto à outra, estavam tão reduzidas, devido às deserções, mortes, baixas.   Pela fusão das duas Brigadas deram 1600 praças.

            Moveu-se a Força, a 11 de janeiro de 1867, depois de permanecerem em Miranda por cento e trinta e um dias.

            Às 11 horas do dia 24 de janeiro de 1867, chegaram a Nioaque o corpo de Tropas de Infantaria, Artilharia e Cavalaria de Exército, como nos relata Visconde de Taunay32.


 Povoado de Nioaque  e o Rio em 1867 - imagens extraída do Livro A Epopea Da Laguna. Lobo Vianna - Rio De Janeiro 1938. Impressa Militar.

            “... ali chegamos, acampamos em ordem de batalha,  com a direita encostada à margem direita do Rio Nioac e à esquerda da margem do Urumbeva.      Instalaram-se o Quartel-General  e o trem a retaguarda, no local da Vila, ocupando o local da Vila, agora em ruínas, fazendo de hospital, as pequenas casas salvas do fogo e um grande galpão que às pressas se construiu.

            Serviu a nave da Igreja, onde se retiraram tudo quanto havia de símbolo do culto, de depósito ao cartuchame e todas as munições e os instrumentos da  Banda Musical que nos acompanhávamos”.

            Depois de dois meses incompletos de reconfortante estada em Nioac, saciados com boa   alimentação ali encontrada, deixada pelos inimigos e antigos moradores, resolveu o Coronel, adiantar um pouco mais pelo lado do Apa e ir ocupar a meio caminho posições tomadas pelo inimigo, o  antigo local da Colônia de Miranda”.


            O Coronel Camisão queria avançar, cuja honra haveria e sentia ferido, quando no início da invasão, que o obrigou à frente do 2º Batalhão de Artilharia de Posição, retirar-se de Corumbá, frente as tropas  de Barrios33, em janeiro de 1865.


5.3.2 Avanço da Coluna Militar para a Colônia Militar de Miranda

Somente o Paraguai interessava.

            Nioaque  ficou sendo a base das Operações, enquanto a Coluna  avançava, relata Taunay34:

            25 de Fevereiro de 1867 havíamos saídos de Nioac.
           
A 26 estávamos no Canindé.

E  a 27 estávamos no Desbarrancado35, onde debandara nos últimos dias de 1864, o Corpo de Cavalaria do Tenente Coronel Dias.    Demoramos ali  dois dias, 28 de fevereiro e 1º de março.

No dia 2 de março chegamos ao rio Feio.

E no dia 3 de março, ocupávamos o local onde existira a Colônia de Miranda, 12 léguas ao Sudoeste de Nioaque. 




5.3.3  José Francisco Lopes e a Força Expedicionária no Sul da Província de Mato Grosso

            Segundo Acyr Guimarães36, quando as tropas saíram do Canindé, o serviço de intendência havia prevenido o comandante  Coronel Camisão, que havia poucas reses de gado para alimentar toda a tropa, de vez que, de Nioaque, o seu fornecedor, José Francisco Lopes, já o teria trazido quase todo da sua fazenda Jardim.   Matava-se em média 22 cabeças de bovinos por dia, desde  a sua chegada a Nioaque.   Decorrido, portanto  um mês, certo  seria que mais de seiscentas reses havia sido consumida, e o gado do principal fornecedor, José Francisco Lopes, estava para acabar.

No dia 2 de março, no Rio Feio, ocasião que José  Francisco Lopes, retornava da sua fazenda, trazendo o último lote  de gado que possui, em torno de 250 reses.

Na Colônia de Miranda, estada desde o dia 4 de março, terras que eram palco da Guerra, mesmo considerando que os paraguaios  haviam recuados, cumpria o comandante brasileiro proceder como se, de um instante para  o outro, os paraguaios viessem a reagir.   Lamentavelmente, as Tropas Brasileiras não possuíam  um Corpo de Cavalaria, porque todos os animais, cerca de 135 cavalos, do seu esquadrão, goiano, morreram no pantanal, vitimados pela peste das cadeiras.    A ausência desta Cavalaria dificultava  as atuações de reconhecimento da região.     Restando como opção proceder ao reconhecimento a pé e ocupar alguns pontos estratégicos, tais como as estradas e patrulhar a   vizinhança.    Pouco se sabia da situação dos paraguaios, quem,  quantos eram, e o  que planejavam.


Senhor Ivo Sá Medeiros, atual proprietário das terras que formaram a "Colônia de Miranda", tendo ao fundo, a sua esquerda, dois capões que tomaram os lugares dos acampamentos do 21º Batalhão de Infantaria e do Corpo de Caçadores a Cavalo. (Município de Guia Lopes da Laguna)
imagem e texto  http://www.retiradalaguna.hpg.ig.com.br/ 18.12.2004.


Em Nioaque, permaneceram as mulheres e as crianças, sob a guarda da intendência que,  também cuidavam das bagagens, das provisões, arquivo, dinheiro para pagamento da tropa, munições, sob a guarda de uma pequena tropa,  estando o grosso  da tropa na posição da antiga Colônia Militar de Miranda.


            O Coronel Camisão relutava em prosseguir  a ocupação, além da Colônia de Miranda, pois não teria gado suficiente para alimentar às tropas, mas, ao mesmo tempo tinha seu orgulho ferido, pois  desde Corumbá, quando foram obrigados a fugir dos Paraguaios, tinha sua reputação abalada, entre os Cuiabanos, logo, seu desejo de vingar-se parecia ser eminente.

Há quase um mês acampados na sede da Antiga Colônia Militar de Miranda, ordenou o seu comandante que utilizassem  os poucos cavalos, montaria dos oficiais e saísse  pelos campos da região à procura de gado.   Mas para infelicidade dos brasileiros, quando os paraguaios efetuaram a retirada, diante a aproximação das tropas brasileiras, levaram consigo todo o gado  existente.    Da Fazenda Jardim, de propriedade de José Francisco Lopes, pouco mais de 200 reses foram levadas para Ipané, no Paraguai em dezembro de 1866, com mais outras 2000 reses, recolhidas das fazendas vizinhas, conforme carta do Comandante  do Forte de Bella Vista, tenente Romualdo  Molinas.   Também foi conduzido nesta época ao Paraguai, 78 pessoas, inclusive o Frei Mariano de Bagnaia, então pároco da Vila de Miranda,  dez carretas e seis carros tipo mineiro, com caixões de haveres e outros pertences.

E como encontrar gado, alimento básico da tropa?  Com fome, não há resistência e sem resistência não há combatentes.    Nos planos do Comandante,  o retorno a Nioaque, seria a solução mais prudente.     Segundo Taunay, o  Comandante reuniu por diversas vezes  o seu  grupo de oficiais, no qual os membros da Comissão apresentaram o quadro real das condições das Tropas, caso desejassem avançar na direção do Rio Apa: insuficiência de alimentos falta de meios de transportes, ausência de um Corpo de Cavalaria, escassez das munições, impossibilidade de angariar reforços ou socorro para  caso sofressem um contra-ataque paraguaio.

No entanto, não eram unânimes as decisões, o próprio Coronel Juvêncio alega:  “Deixo viúva e seis órfãos.    Terão como única herança um nome honrado”.
Um outro fato influencia na decisão da Tropa, ao invés de Recuar para Nioaque,  estimula  para avançar  rumo ao Paraguai, quando saíram tropas da Colônia para levantamento de reconhecimento da região além do Rio Miranda.   No dia 25 de março, saiu o 21º Batalhão de infantaria, paulista  chegando na região conhecida como fazenda Monjolinho, onde Gabriel Francisco Lopes e Dona Senhoria residiram por alguns anos  e no dia 10 de abril, o 17º Batalhão de Voluntários de Ouro Preto, avançou uns 50 km adiante,  reconhecimento este efetuado pelas tropas, marchando a pé.

José Francisco Lopes, fazia parte do 17º Batalhão de Voluntários, durante esta incursão de reconhecimento, recebera notícias do seu filho e companheiros levados prisioneiros, em dezembro de 1866, estavam de regresso, ao todo, dez jovens brasileiros, fugitivos das prisões paraguaias, pertencentes às famílias Lopes, Barbosa e Ferreira.    Mais dez  voluntários, ingressaram ao 17º de Voluntários, e gritavam entusiasmados:  Ao Apa!  Ao Apa!   Este fato foi decisivo na determinação de avançar para além da fronteira do Brasil.

A 14 de abri de 1867, inicia-se a travessia do Rio  Miranda.   Primeiro o Corpo de Caçadores37,  goiano; em seguida o 21º Batalhão de Infantaria, paulista, precedendo uma bateria de duas peças raiadas; depois o 20º Batalhão de Infantaria, também goiano, com baterias idênticas à outra e por fim o 17º Batalhão de Voluntários da Pátria, ao qual acompanhavam, na retaguarda, as bagagens, as carretas dos comerciantes, as mulheres dos soldados e as crianças.   Duraram duas horas a travessia do Miranda38.

Atravessado o Rio Miranda, a marcha era lenta, o compasso da marcha era dado pelos bois que puxavam os canhões, da marca francesa La Hitte, que mandara um técnico sob contrato para prestar assistência.    Ao todo eram oito canhões, que marchavam desde a cidade mineira de Uberaba, porém, quatro foram deixados na Vila de Coxim, em defesa da estrada que liga aquela região a capital da então Província de Mato Grosso, Cuiabá e quatro acompanhavam as Tropas Brasileiras na direção ao Paraguai.   Seguindo no encalço dos paraguaios, avançam  a caminho do Fortín de Bella Vista, República do Paraguai, guiados sempre, pelo então, prático  José Francisco Lopes.

Em 17 de abril de 1867, a  Coluna  da Força  Expedicionária em Operação no Sul da  Província de Mato Grosso, comandada pelo Coronel Carlos Moraes Camisão, chegava à fronteira do Império do Brasil, de D. Pedro II,  com a República do Paraguai, de Francisco Solano López, alcançando a “Bella Vista39” no dia 20.

Gado era um dos objetivos.
Abater os paraguaios, vinha em seguida.


A continuação desta ousada e trágica viagem luta, embates em territórios do Paraguai, você acompanhará na íntegra, nos relatos seguintes.


5.3.4  A Busca de Gado na Fazenda Laguna – Republica do Paraguai
           

Para conhecer a continuidade desta marcha até a Fazenda Laguna, de propriedade do Governo Paraguaio, onde supunha haver abundância de gado, transcreveremos o Relatório40 do Major José Thomaz Gonçalves.   Este relato, para  elevar o seu caráter histórico, transcrito em sua ortografia original.


 Maj. em Comissão José Thomaz Gonçalves
Cmt. 21 BI de Linha
(até 30/05/1867)





Imagem do local  onde ficava a sede da Fazenda Laguna no Paraguai. Foto CAT/Jardim/MS/ 2010



30 Miranda, agora em ruínas.
31 Cartas da Campanha de Mato Grosso, Biblioteca do Exército, 1944.
32 Op. Cit. Ref. 31.
33 Comandante paraguaio.
34 Op. Cit. Ref. 31.
35 Rios Desbarrancado e Feio estão localizados em Guia Lopes da Laguna, atualmente.
36 História dos Municípios, Mato Grosso do Sul, vol. 1, 1992.
37 Agora a pé, os cavalos estavam mortos.
38 Estas terras, a margem esquerda, pertencem hoje ao Município de Jardim.
39 Paraguai.
40 Relatório extraído do: Commercial Almanach Matto-Grossense.   José Meireles de Souza Freitas/Carlos Mello.  C. de Mello & Comp. São Paulo, 1916.  Cópia cedida pelo arquivo Público de Mato Grosso, Cuiabá, 1984. 

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