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sexta-feira, 8 de abril de 2016

ETIMOLOGIAS, LENDAS, EVOLUÇÃO DA PALAVRA NIOAQUE


CAPÍTULO II



2. Introdução

ETIMOLOGIAS, 

LENDAS,  

EVOLUÇÃO DA PALAVRA NIOAQUE

  
  Toda essa região, compreendida não apenas pelo atual Município de Nioaque, fora até o início do século XIX, palmilhada por grupos indígenas.  Hoje no Mato Grosso do Sul[1] são cinco os grupos existentes, a saber:



a)      Guarani, que se dividem em Kaiová e Ñandeva;
b)      Terena;
      c)      Kadiwéu, também conhecido pelo nome de Guaicuru;
d)     Guató;
e)      Ofaié.

 
Fotografia[2] de um índio Kadiwéu, remanescente da família dos Guaicurus.


Tribos extintas[3], Bororos, Kamba, Paiaguás, Xamacoco, Guaná, Caiapós e outros. De todas estas nações, com certeza há remanescentes no Estado de Mato Grosso do Sul miscigenados, aculturados, despossuídos, sobrevivendo nas mesmas condições das populações periféricas, mas que outrora foram numerosos, orgulhosos da sua cultura.


            Do ponto de vista lendária, é muito rica a história sobre a origem da palavra Nioaque.


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Uma  coisa é verdadeira: a palavra Nioaque é de origem indígena derivada das palavras graficamente escritas:  ANHUAC, ANHOAC, ANIUAC, que significa na concepção das termologias  científicas:  “Clavícula Quebrada”  e procede da denominação primitivamente dada ao Rio, do qual originou o nome da Cidade, hoje Município.

2.1  Etimologias


a)      ANIOAQUE -  Originário da tribo Guaná, segundo Estevão de Mendonça, que significa Clavícula Quebrada[4].  

b) ANHUAC -  Segundo Teodoro Sampaio[5]  “tirou  da tribo Tapuia esta bela denominação de formoso local, é corruptela do nome dado pelos Guaicurus, alias mencionado nos antigos mapas portugueses, quando em exploração destes sertões,  Anhuac, que quer dizer  Clavícula Quebrada”.

c) NHUAQUE [6]-  Palavra de origem  da tribo Guarani.  Junção de duas palavras: NHU + AQUE =  Campo de dormir;  significando campo de dormir, local onde se faziam paradas para descansar ou dormir de viagens ou caçadas.

d) ANHUAC -   Outra variante, segundo  Odilon Queirós[7],  “originou-se de duas palavras da tribo dos Terenas e também usado pelos índios Laianos e Guanás, originários do Kinikinau (Quiniquinau; tribo Aruaque, sul de Mato Grosso), índios que dominavam as terras firmes e montanhosas do Urucum, Rabicho, Morro Grande, Piraputangas e Itambé.  A significação de Anhuac é:  ANHU + YAC = Clavícula + Quebrada”.


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2.1.1 Evolução Fonética e Gráfica da Palavra Nioaque

Durante estas pesquisas[8], em diferentes livros, impressos, manuscritas de épocas diferentes,  foram encontradas as grafias seguintes:

a)      Anhoac
b)      Anhoaque
c)      Aniuac
d)      Anioac
e)      Anhuyac
f)       Aniuaque
g)      Anhuaque
h)     Anhuac
i)        Nhuaque
j)        Nyuac
k)      Nioac
l)        Nioaque

Estão selecionadas algumas por haver maiores correlações morfológicas entre si:
a)      Anhuac
b)      Anhoac
c)      Anhoaque
d)      Aniuac
e)      Anioac
f)       Nioac
g)      Nioaque

As cinco primeiras derivações são morfologicamente de origem indígenas.

            Com a denominação  NIOAC, esta forma gráfica está  registrada em Relatórios[9], manuscritos de 1848/49, “... dahi caminharão por terra até o Nioac, galho de Miranda...”    São os documentos mais antigos encontrados e  que  comprovam o uso desta grafia.   Esta denominação Nioac foi dada ao Rio.

            A denominação Nioac está registra nos fatos históricos em três épocas diferentes:

Primeira, antes da invasão Guarani, na Guerra que a Tríplice Aliança sustentara contra a República do Paraguai, a  partir dos anos de 1847 até 24 de maio de 1877, Lei nº 506.

Segunda, entre 7 de julho de 1883 a 18 de julho de 1890, Lei nº 612,  até a  criação do Município de Levergéria (Nioaque), Decreto nº 23.

Terceira, a partir de 26 de outubro de 1892, em razão da lei nº 13, até aproximadamente o ano de 1938, quando sofre reforma ortográfica.   Pesquisando em livros Atas e Arquivos, contendo conteúdos manuscritos, a grafia Nioac é encontrada até o ano de 1938.   No entanto,  alguns poucos já escreviam no ano de 1937 a forma gráfica atual Nioaque.    O que se pode afirmar, que a partir do ano de 1938, temos a forma gráfica atual: Nioaque.

Quanto à denominação atual NIOAQUE incorporada à nova forma fonográfica da Língua Nacional, sofreu um processo metamórfico ao longo do tempo.


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Acompanhe a análise seguinte:

a) Anhuac;  b) Anhoac;  c) Anhoaque;  d) Aniuac;  e) Anioac, formas gráficas cuja origem está ligada ao contexto primitivo, indígenas, dadas ao Rio  e esta evolução com diferentes formas de grafias, consiste na maneira que se ouve, fala e escrevemos.  Na Língua Portuguesa, geralmente escrevemos as palavras através dos sons  e quando não se domina  perfeitamente a pronúncia e a grafia da palavra, acabam por escrevê-la com caracteres  diferentes da palavra original, principalmente no nosso estudo, por estarmos tratando de uma língua indígena que não apresenta nada em comum com a  latina.
Com a presença dos portugueses, sem falarmos do pioneirismo que coube aos espanhóis, ouvindo-se a Língua e comunicando apenas através dos sons, aos poucos a sua grafia foi sendo aportuguesada fonética e graficamente.

Com o passar das épocas, popularizando-se o nome, a pronúncia veio trazer mudanças gráficas, onde se concluí que na tentativa de fazer a grafia através do fono, pareça mais original escrever assim: NIOAC.

Uma vez aceita e oficializada esta forma de se  escrever e pronunciar, esta acabara ao longo de novas décadas  sofrendo novas influências através das reformas ortográficas na Língua Portuguesa, o que conduziu a palavra Nioac   a tomar outra estrutura gráfica, de acordo com a terminação do som.

Observe  que a palavra  N I O A C    possui um som final de “QUE”, onde se conclui que foi abolido a consoante  “C”  e acrescentado o dígrafo “que”, correspondente ao som final da antiga forma gráfica   NioaC, para  NioaQUE  - NIOA + QUE = NIOAQUE[10].

Tendo então oficialmente a palavra escrita fonética e graficamente Nioaque, mas conservando, como podemos observar, a raiz etimológica, seja ela pertencente a qualquer uma destas derivações:  Anhuac; Anhoac; Anhoaque; Aniuac; Anioac.

Apenas uma curiosidade, em um único caso, no aprofundamento nas pesquisas de manuscritos do século XIX, encontra-se no registro de uma escritura de terra a palavra Nioaque, com a grafia idêntica a dos dias atuais, mas que designava o nome do Rio Nioaque e não a povoação.   Conheça  o trecho[11]“...divisando com os campos da fasenda de Antonio José de Souza até encontra a coxilha que divisa as agôas do Rio Nioaque,  tributario do Mandego (Miranda)...  Porto de Jaty des de abril de mil oito centos e cincoenta”

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2.2   As lendárias Histórias sobre a origem da palavra Nioaque (atributo ao Rio e não a cidade)



2.2.1 Nioaque – na versão da tribo Guarani
NHU + AQUE

Segundo descendentes de Guaranis, paraguaios, principalmente na região com a fronteira, contam-nos que esta região adjacente ao Rio Nioaque, área do Município de Nioaque, fora outrora  trânsito livre dos índios Guaranis que incursionavam estes sertões, ora fugindo dos brancos, ora em busca de caça.

O Rio Nioaque ficava no itinerário dos grupos  guaranis e que os mesmos  realizavam paradas para descanso e pernoites, às margens desse Rio, os quais chamavam em sua língua  NhuaqueNHU = campo e AQUER = dormir.  Assim, com o passar dos tempos, o Rio passou a ser identificado pela denominação de Nhuaque, que significava, local onde se pararia para descansar, pernoitar.

2.2.1.1  Guarani -  Grupo Tupi-Guarani, um dos maiores que habitaram do Atlântico à República do Paraguai e Argentina; embora guerreiros, facilmente foram conduzidos à civilização por conquistadores e missionários jesuítas.

            Os Guaranis, no Brasil subdividem-se em três grupos Mbyá, Kaiová e Ñandeva.  Estes dois últimos grupos, com predominância dos Kaiová, vivem no Mato Grosso do Sul.  Os Ñandeva autodenominam-se Guaranis.  Cerca de 24.649 índios entre Guaranis e Kaiová  vivem no Estado.

  Foto[12] de um grupo de crianças do grupo indígena Guarani.



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2.2.2  Nioaque – na versão da Tribo Guaicuru
     ANHUAC

Os índios Guaicurus, cavaleiros bons, realizavam incursões permanentes nestas regiões, sendo que, quando os primeiros homens brancos pisaram pelo torrão nioaquense, eles eram os habitantes nativos.

Contam-nos a lenda, que em uma destas viagens a cavalo, um dos índios, filho do cacique, caiu do cavalo e fraturou uma determinada parte do corpo, que em nossa língua recebe a denominação de Clavícula e na língua indígena, denominavam pôr Anhuac.

Ora, era comum andarem montados nos cavalos sem complementos de montaria, que fornecem comodidade e segurança ao cavaleiro. 

Esse acontecimento deu-se às margens de um riacho, o qual passou a denominar de Rio Anhuac.

Aos poucos o Rio foi tornando-se um ponto de localização geográfica na região e quando os exploradores aqui chegaram já encontraram o Rio com esta denominação e dela fazendo uso.   Esta denominação do Rio passou a ser transmitida  aos exploradores espanhóis e sucessivamente aos exploradores e colonizadores portugueses  e brasileiros, chegando até os nossos dias.


2.2.2.1  Guaicurus/Kadiwéu -  grupo indígena, primitivamente da região do Chaco, pantanal, baixo Paraguai, viviam da caça, da pesca e agricultura de subsistência.

Os índios Kadiwéus são os últimos remanescentes da família Guaicuru.

O aparecimento do cavalo, introduzido na América do Sul pelos espanhóis, no século XVI, aproximadamente a partir de 1535, multiplicou-se rapidamente, meio a um clima propenso, em menos de um século, inúmeras tropas de animais selvagens vagueavam pelos campos.

Enquanto que para algumas tribos os cavalos constituíam-se em mais um animal para caça, os guaicurus, souberam domá-los e utilizá-los como meio de transporte.

Foi desde modo, que se tornaram hábeis cavaleiros, dominando terras e submetendo povos: Caiuás, Bororos, Guanás, Caiapós, Terenas.   Assim, quando a ocupação dos homens brancos foi penetrando por estes arredores, eles já dominavam a região.

 
Monumento no Parque das Nações indígenas, Campo Grande - MS. Representa um índio Guaicuru.  Foto do autor, março 2016.

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2.2.3  Nioaque – Na versão da tribo Guaná
      ANHOAC / ANHOAQUE

Contam-nos a seguinte lenda:   Era habitual entre a tribo indígena Guaná  saírem em determinadas épocas do ano para caçar (assim  também procediam todas as outras).

Andando pela região à procura de caça, penetrando matas à dentro e aproximando-se às margens de um riacho...

De repente,  um dos índios, ouviu entre as matas um movimento de folhas e pisadas sobre galhos secos.   Com sua visão acusada, fez sinal, para que seus companheiros parassem de caminhar.

Súbito de alegria avistou um lindo veado que se dirigia às águas do riacho...

Habilmente, armou-se do arco e de flechas e disparou contra o animal.  Ouviu-se na floresta, primeiro um berro e depois um gemido e, por fim, o esperneamento por entre a vegetação.

O índio, percebendo que o animal havia tombado, ainda debatendo-se, correu e agarrou com seus fortes braços.  Neste instante, percebendo que o animal estava apenas ferido, isto é, a penetração da flecha fez com que uma das determinadas partes do corpo estivesse fraturada, a qual  denominamos de clavícula, então gritou para os outros companheiros:

__ ANHOAC! ANHOAC! ANHOAC!

Que estava significando, está apenas com uma quebradura na clavícula.   Terminando de matá-los, conduziu a caça até os seus companheiros.

Aos poucos os índios foram percebendo que a região compreendida pelas margens do Rio Anhoac   era muito abundante a caça dessa espécie, passando a considerá-la de muito boa, denominando o rio de Anhoac/Anhoaque.
           

2.2.3.1 Guaná -  Povo da família Aruaque, localizado à margem esquerda do Rio Paraguai, vizinhando com os Guaicurus, possuidores de  afinidades com os brasileiros e com a tribo dos Guaicurus, onde a união de sangue e de Língua era permanente.   Além da caça e da pesca, dedicavam-se à tecelagem de algodão e a lavoura.
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2.2.4  Nioaque – Na versão da Tribo Terena
                   ANHU + YAC

Nos apontamentos históricos de Manoel de Pinho, transcritos por Odilon de Queirós[13], em estudos realizados sobre a  cidade de Jardim e Guia Lopes da laguna, encontra-se o seguinte trecho:  “... nos estudos históricos que me propus fazer em 1906, sobre a região sul de Mato Grosso, quando Sargento do 7º Regimento de Cavalaria de Nioaque, visitando em sua aldeia, estabelecida à margem do Rio Urumbeba, disse-me o velho capitão dos índios, Vitorino, filho de celebre chefe indígena Vitório Jibóia, ambos famosos veteranos da  Guerra do Paraguai, que o nome ANHUAC, depois NIOAC, originou-se da queda de um jovem índio, sofreu quando montava um cavalo, tendo fraturado a clavícula, daí o nome Anhuac – Clavícula Quebrada – ANHU = Clavícula + YAC = Quebrada, com a qual ficou sendo conhecida a atual cidade de Nioaque...”

2.2.4.1 Terenas -   Da família Aruaque, da ramificação Guaná.  Aceitou facilmente a presença espanhola e depois a portuguesa, bem como a de seus usos e costumes.    Especialistas na arte da cerâmica.  Originários da região do “Chaco”, pantanal paraguaio.   Transferiu-se posteriormente para as regiões de Miranda, Aquidauana e Nioaque.  Muitos lutaram como voluntários na Guerra contra o Paraguai.

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2.2.5 NIOAQUE – Lenda Popular Satirizada
            NI + O + AQUE

Conta-se que há muitos anos atrás, no começo da existência de Nioaque, havia aqui um homem  que não andava e que tinha que ser conduzido  através de um couro, puxado por alguém.  Diz ainda que este homem não falava direito, era gago, pois lhe apelidaram de  “NI”.

Certo dia, NI, pediu para ir ao outro lado da ponte do Rio Nioaque.  E o homem que puxava o couro foi levando o NI.

Quando estavam para atravessar a ponte, vinha em disparada, na direção deles uma manada de bois, que naquela época eram chamados de “AQUES”.

Quando o homem que puxava o NI, viu a manada de AQUES, gritou desesperadamente:

__ “NI” o “AQUE”!  NIOAQUE.

Saiu correndo, deixando o pobre NI para morrer embaixo dos AQUES.

Esta frase ficou conhecida, pois toda vez que contavam a história de NI, lembravam deste fato.

Algum tempo depois, a população local, resolveu chamar o local de NIOAQUE, homenagem póstuma ao NI.

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2.2.6 NIOAQUE – PALAVRA COMPLETA, CIDADE DAS VOGAIS

            Leitores despercebidos ignoram o que a natureza humana através da evolução da linguagem oral e com a representação do código linguístico fez com a palavra Nioaque.  É uma palavra de origem indígena e que sofreu as influência da língua portuguesa até ganhar a representação fonética e morfológica.   Acompanhemos juntos este prodígio da linguagem até certo ponto curioso:


            A palavra Nioaque é constituída por sete letras 
n i o a q u e.
           
            A palavra Nioaque é constituída somente por duas consoantes - n q.

            A palavra Nioaque reúne as cinco vogais - 
(a,e,i,o,u)  n  i  o  au  e.

            Pelo pouco que conheço da nossa Língua Pátria,  a palavra Nioaque é a menor palavra que reúne as cinco vogais com o menor numero de consoantes. Deste modo, é riqueza linguística para  todos os Nioaquenses e sul-mato-grossenses.

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2.2.7 NIOAQUE – Considerações

                Any’wac ou ani’uac


Nioaque é sinônimo de “costela quebrada” ou como os homens  brancos denominaram, “clavícula quebrada”.

No entanto, esta diferença aconteceu em função de os grupos indígenas não terem nomes  internos para as partes do corpo humano.  Tinham conhecimento de ossos humanos, mas não havia denominações ou estudos científicos; por isso mesmo pode ter sido costela, clavícula ou qualquer outra qualificação.

Realmente a afirmativa mais assertiva a respeito da origem da palavra  NIOAQUE, não encontramos outra significação mais convincente  entre as pelos homens brancos denominada, senão as de indígenas do grupo Tupi-guarani e Guaicuru.

O que precisa ser entendido,  que não apenas Nioaque, mas outra região  do Mato Grosso do Sul, sempre foi território de aborígenes, ora de um grupo, ora de outro e que cada qual dava a sua interpretação ou cognominação, outros simplesmente adotavam o mesmo nome; entretanto, uma vez que pronunciarmos uma palavra de língua indígena ou estrangeira, sempre sofre influência da nossa Língua na sua elaboração vocálica; uma vez que os povos primitivos  não  faziam  uso da linguagem escrita, com os códigos linguísticos do nosso alfabeto, somente a oral, vocalizada e alterada pelos freqüentes povos que neste espaço compreenderam os seus habitats  ou assim dizendo, território de caça.

A região que compreende a atual circunscrição municipal, nunca foi local de residência indígena, isto nos diz a respeito, por não termos encontrados até então, nada que possa caracterizar como ocas, vestígios de fósseis humanos e nem utensílios, até o momento  não se encontraram sítios arqueológicos.

Nioaque compreendeu como uma reserva, mas nunca propriedade específica a nenhum grupo indígena; assim, quem estivesse aqui, era seu ocupaste.

Não se dispõem  de registros que notifiquem que tenha havido disputas de terras  entre os índios na região de Nioaque.

A alimentação natural sempre foi muito farta entre as águas dos Rios Nioaque, Miranda, Apa e Paraguai.

No tocante a origem da palavra, o fundo primitivo, encontra-se situada entre os primórdios de 1580, quando os primeiros homens brancos de origem espanhóis, acompanhados por grupo tupi-guarani, servindo de guias, entre outros grupos indígenas, caminharam por estas cercanias, ora na direção da atual Bolívia e Peru.   Os Bandeirantes do século XVII e XVIII e os povoadores do século XIX foram os que realmente vieram a conhecer o Rio, popularizando a denominação qualquer que tenha sido a sua origem primeira.

Uma das hipóteses da origem lendária estar relacionada à queda de um índio, provavelmente filho de um chefe indígena, da montaria de um cavalo, dos acompanhantes dos grupos aventureiros ou caçadores.  Isto pode ter acontecido, pois andar a cavalo representava uma novidade para quem sempre andou a pé, principalmente entre os Guaicurus.  O fato, de o índio ser ainda jovem e inexperiente na arte de cavalgar,  sofreu uma queda diante de um momento do salto que o animal daria ao atravessar as correntezas das águas do Rio, ocasião que poderia estar cheio ou com barranco muito acima do nível do Rio.  Já próximo à travessia, o golpe natural do animal para pegar o impulso e atingir terra firme, o índio sem presteza, acabou deslizando da montaria e caindo para trás, batendo com as costas no chão sob entulhos de madeira ou pedras depositadas na margem.   

Como já era de se esperar, feriu-se e fraturou alguns ossos das costas pelo impacto violento sobre o solo, Clavícula quebrada ou Costela fraturada.   Conforme algumas tradições, no momento os índios percebendo a gravidade do ferimento e as dores que foram aparecendo  com a letargia natural do corpo, colocaram então,  o ferido sob os cuidados dos seus especialistas, que na ocasião envolveram-no em espécie de ataduras, unguentado  com plantas de Urumbeva, encontrado nas imediações de outro  ribeirão não distante do local do acidente, esta é a uma hipótese que pode ter originado o acidente e posterior denominação.

Com o passar dos tempos foram os próprios homens brancos que acabaram popularizando a qualificação dos dois Rios com as denominações “Nioaque e Urumbeva” – ANI’WAC e URUM’BE’WA.

Segundo Antenor Nascente[14]  “Urumbeva, mesmo que urumbeba, planta da família das cactáceas (cactus opuntia), do Tupi – urubeba”.  Já para  Silveira Bueno[15]  “Urumbeba, nome de um cardo de folhas largas em forma de espátula”.

 Os dois nomes sofreram alterações, mas conservaram a raiz etimológica.  Em entrevista com algumas pessoas descendentes dos índios da Tribo Terena, nas Aldeias de Nioaque, Água Branca e Brejão, confirmam a tradição oral, de que a palavra Urumbeva ou Urumbeba, ser relativo a uma espécie de planta medicinal.

Visconde de Taunay[16]  trata pela denominação de “Orumbeva”

“Fora a vila de Nioac abandonada pelo inimigo a 2 de agosto de 1866. Por toda a parte ali se viam vestígios do incêndio. Poupadas, apenas, duas casas e uma pequena igreja de pitoresca aparência. À primeira vista agrada o aspecto geral do lugar. De um lado, o povoado e um ribeirão chamado Orumbeva; do outro, o rio Nioac, cujas águas confluem cerca de 900 metros, para trás da igreja, deixando livre, em torno desta, à direita e à esquerda, um espaço duas vezes maior. Pequena colina fica-lhe em frente, a pouca distância”.







[1] Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, Índio, vivendo novas lições de etnia, 2000,  volume 1.
[2] Fotografia extraída do caderno da Secretaria de Estado de Educação, Volume 1 – Escola Guaicuru – índio – Vivendo novas  lições de etnia, 1999.
[4] Estevão de Mendonça, Datas Mato-grossenses, 1973, vol. 1, p. 251.
[5] Teodoro Sampaio, Dicionário Etimológico da  Língua Portuguesa, 1954.
[6] Alguns documentos de origem paraguaia, os que tratam da Guerra do Paraguai,  apresentam a denominação NHUAQUE designando o local da Povoação e do Rio.
[7] Odilon Queirós, manuscritos fornecidos pela Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, retratando aspectos históricos das cidades de Jardim e Guia Lopes da Laguna, 1983.
[8] Levantamentos bibliográficos entre os anos de 1981 a 1989.
[9] Manuscritos dos Relatórios de 1848 e 1849 do Presidente da Província de Mato Grosso, Joaquim José de Oliveira, p. 121, Arquivo Público do Estado de Mato Grosso,  CPA, Cuiabá, 1984.
[10]  Esta alteração gráfica também está de conformidade com as instruções para organização do vocabulário  da Língua Portuguesa, aprovado pela Academia Brasileira de Letras, na seção de 12 de agosto de 1943, tendo por base o vocábulo ortográfico da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa, Edição de 1940
[11] Do Livro de Registros dos Títulos de Propriedades e Sujeita as Legitimações pertencentes a este Município, de 1893/1894, Livro nº 14, folhas 9 verso a 20.
[12] Fotografia extraída do caderno da Secretaria de Estado de Educação, Volume 1 – Escola Guaicuru – índio – Vivendo novas  lições de etnia, 1999.
[13] Op. Cit. 1.
[14] Dicionário da Língua Portuguesa, Bloch Editores, 1989, p. 645.
[15] Dicionário Vocabulário Tupi-Guarani, 1982.
[16]   A Retirada da Laguna, Visconde de Taunay
Fonte:
TAUNAY, Alfredo D'Escragnolle Taunay, Visconde de. A retirada da Laguna - episódio da
Guerra do Paraguai. São Paulo: Ediouro. (Prestígio)

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