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sábado, 9 de abril de 2016

NIOAQUE PLANEJAMENTO URBANO, CERTIDÃO DA FUNDAÇÃO




FUNDAÇÃO DE NIOAQUE - II


Saiba Mais: 

A Lei que Oficializou a data de 8 de Abril de 1849

Data da Fundação da Cidade de Nioaque

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SEÇÃO 1 -

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3.6 Planejamento Urbano


Planta do Primeiro plano urbano moderno de Nioaque, estabelecido no dia 6 de abril de 1891, após a criação do Município, então com a denominação de Vila de Levergeria, com as sua oito ruas delineadas, traçadas e nomeadas, entre as quais, apenas duas conservas as denominações primitivas, a 15 de Novembro e a 1° de Março.

Embora a cidade de Nioaque tenha nascida a partir da Quarta década do século XIX e seu renascimento a partir de março de 1870, portanto, uma cidade de caracteristicamente antiga.

Entretanto, quando observamos os traçados das suas ruas, a planta da cidade, notar-se-á que a cidade possui traços definidos, plano horizontal bem feito, característica de uma cidade planejada e moderna, quanto ao seu aspecto urbano, apesar da topografia apresentar uma leve acentuação para Sudeste Outro aspecto, o perímetro urbano está cercado pelas águas do rio Nioaque e Urumbeva formando quase uma ilha.

O primeiro plano urbano foi definido em 1891, quando atribuída à denominação para as oito principais ruas, necessidade de modernização da Vila, uma vez elevada à sede do Município no ano anterior. O plano de urbanização foi concluído no final de 1894 pelo agrimensor Capitão Arthur Cavalcante e pelo Intendente Geral do Município, João Luiz da Fonseca e Moraes.


Fotografia: Antiga Rua General Diogo – Atual Rua Quintino Bocaiuva, 1901 (adaptada do Álbum Gráfico de Mato Grosso)

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3.7 Fundação da Cidade ou Povoado de Nioaque - Considerações


Como destrinchar o desfecho sobre a fundação da cidade de Nioaque?


É notório e do conhecimento de muitos nioaquenses[1] que as festividades em comemoração ao natalício de Nioaque, vinha sendo comemorado em 24 de maio, por ocasião da criação do Distrito de Nioaque, conforme a Lei Provincial de 24 de maio de 1877, n. 506.


Depois se adotou a festividade celebrada no dia 22 de maio, esta data estava associada ao dia de Santa Rita de Cássia, considerada a Santa Padroeira da cidade, de acordo com os costumes católicos. 


Atualmente, vem sendo adotada a data de 18 de julho, pois em 18 de julho de 1890, através do Decreto Estadual nº 23, foi criado o Município de Nioaque, desmembrado do Município de Miranda, data da emancipação Política.

No início deste Capítulo está a referência sobre três elementos a serem considerados:

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a) A data do início do povoamento da região compreendida por Nioaque;

b) A data do início da fundação ou tentativa de fundação com a instalação de um núcleo populacional que deu origem à cidade de Nioaque;

c) A data de criação do Distrito de Paz e a data da criação do Município de Nioaque.

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Um outro aspecto deve ser observado, quando se faz a leitura histórica das abordagens tratadas, é com relação às delimitações geográfica atribuída a Nioaque em cada momento em que ocorreu o fato histórico. A delimitação geográfica deve ser observada de acordo com o contexto político e administrativa, assim em 1890 era um espaço totalmente diferente do apresentado em 1990.

Observar:

a) As terras e núcleos populacionais da região de Nioaque faziam parte primeiro do Município de Corumbá, criado em 05.07.1850;


b) E, posterior ao Município de Miranda, criado em 30.05.1857;


c) A partir de 24 de maio de 1877, o povoado de Nioaque foi elevado à categoria de Distrito[2] do Município de Miranda, adquirindo uma certa autonomia administrativa; 


d) Em 18.07.1890, Nioaque constituiu Município[3] próprio, recebendo uma jurisdição administrativa superior a 200.000 Km² apresenta um contexto geográfico e histórico de significativa amplitude;


e) Nioaque geográfico e histórico antes de depois de 26 de agosto de 1899 com o desmembramento do Município de Campo Grande;


f) Nioaque geográfico e histórico antes e depois de 1908, quando houve o desmembramento do Município de Bela Vista;


g) Nioaque geográfico e histórico antes de depois de 1928, quando houve o desmembramento do município de Maracaju.


h) Nioaque geográfico e histórico antes de depois de 1953, quando houve o desmembramento do Município de Guia Lopes da Laguna;


i) Por fim uma cidade e Município com área geográfica e histórica depois de 1953 até os nossos dias.

Deste modo, para entender melhor o contexto histórico de Nioaque é fundamental que tanto o leitor, quanto o pesquisador, contextualize tal fato dentro de um momento temporal e espacial.

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3.7.1 Povoamento nas Cercanias de Nioaque


Neste item enfoca elementos sobre o povoamento em torno da região que mais tarde influenciaria na fundação do povoado e cidade.

3.7.1.1 Em 1839 - Gabriel Francisco Lopes, em incursões pelos sertões e campinas sul mato-grossenses, redescobre[4] os famosos campos de “Vacaria” nome pelo qual ficou conhecido às terras entre os rios Dourados, Brilhante, Vacaria e Ivinhema, por ocasião do encontro com uma Vacaria, cerca de 60 vacas e 1 touro, que haviam sobrevividos das antigas missões jesuíticas espanholas do século XVI e que foram abandonadas após a insistente penetração dos bandeirantes paulistas que na caça e aprisionamento de índios, atacavam as reduções indígenas, mantidas pelos missionários.


Tivemos assim, a chegada de um bandeirante do século XIX, o qual foi o percussor da colonização neste sudoeste.

Gabriel foi o responsável no deslocamento das primeiras famílias que se encontravam nas cercanias de Paranaíba e Pardo.


3.7.1.2 - Em 1841, cerca de duas léguas do rio Vacaria, Antônio Gonçalves Barbosa, sogro de Gabriel, estabeleceu posse no lugar denominado Boa Vista, entre os rios Brilhante e Vacaria, proveniente do rio Pardo, onde esteve estabelecido por alguns anos com seus familiares.


Veio influenciado pelo próprio genro e estabeleceu-se com seus familiares. Acabou atraindo novos familiares, amigos e aventureiros, em face de abundância de terras disponíveis e favoráveis ao criatório de gado vacum e animais cavalares e para a prática de agricultura de subsistência. É Antônio Considerado por muitos como o primeiro morador do Planalto de Maracaju.


3.7.1.3 Em 1843 - proveniente de Cuiabá, o comandante castrense, Major João José Gomes com missão militar oficial para a região sul da então Província de Mato Grosso, navegando pelos afluentes do rio Paraguai, atinge o Povoado de Miranda e através do próprio rio Miranda, chega à foz do rio Nioaque, local que ficou denominado de Forquilha, face que os dois rios tomam forma semelhante a uma forquilha no encontro das águas. Ambos rios têm suas nascentes na escarpa ocidental da serra de Maracaju, e percorrem direção semelhante. Ali passou a residir, estabelecendo criatório de gado e ao mesmo tempo segurança, guarnecendo a região. Pelo que se tem informação, foi o primeiro morador mais próximo que se estabeleceu em Nioaque, no que refere a cidade.

Foi o mesmo Major o responsável pela exploração do itinerário fluvial que ligasse a Bacia do Paraguai com a do Paraná pelo Sul de Mato Grosso, tendo os dois rios como pontos mais próximos o Nioaque e o Brilhante. Foi o responsável pela sinalização da via terrestre do Varadouro, trecho de terra compreendido entre os dois rios, sendo divisor de águas, a serra de Maracaju.


3.7.1.4. No ano de 1845 - Inácio Gonçalves Barbosa, irmão de Antônio, adquirira por compra a propriedade que Gabriel Francisco Lopes dera início, denominada de Passa Tempo, também entre os rios Vacaria e Brilhante, onde passa a residir com os seus familiares.

Tanto Inácio, quanto Antônio, constituíram uma prole numerosa, que aos poucos foram ocupando e negociando as áreas do alto e abaixo da serra de Maracaju.

3.7.1.5. Em 1846 - Gabriel Francisco Lopes, dirigindo-se para o sudoeste, estabeleceu propriedade na Cabeceira do Apa, próximo ao Córrego, o qual ficou denominado Monjolinho, nome também da Estância, hoje próximo a Bela Vista. Passou a residir com sua esposa Dona Senhorinha Barbosa Lopes, três filhos e alguns escravos. Gabriel faleceu ali mesmo em 1849. José Francisco Lopes[5], acabou penetrando e residindo por sete anos na República do Paraguai, ao retornar, casou-se com a viúva do seu irmão, Dona Senhorinha e mudou para a Estância do Jardim em 1858, que Antonio Gonçalves Barbosa levantara à margem direita do rio Miranda[6], e faleceu em 1867, vítima da cólera mórbus, quando em campanha com a Coluna Militar de Operações no Sul de Mato Grosso, na Guerra do Paraguai, integrante da epopéia da Retirada da Laguna. José Francisco Lopes e outros civis e militares morreram na margem esquerda do Miranda, local hoje denominado Cemitério dos Heróis da Retirada da Laguna, município de Jardim.

3.7.1.6 No ano de 1846 - Manoel Gonçalves Barbosa, filho de Inácio, deu início à posse com a denominação Fazenda Urumbeva, na escarpa ocidental da serra de Maracaju, próximo ao rio Urumbeva. A área da Fazenda Urumbeva abrangia toda a região da confluência entre os rios Nioaque e Urumbeva.

Manoel, depois do Major Castrense, foi o morador mais próximo a estabelecer-se nas cercanias da atual cidade de Nioaque.

3.7.1.7 Entre os anos de 1847 a 1850 - Joaquim Francisco Lopes, irmão de Gabriel e José Lopes, um dos maiores exploradores do Planalto de Maracaju, empreendeu viagens de exploração e reconhecimento, entre as quais tomando posse de propriedades nos sertões e campinas do sul do Estado, então Província de Mato Grosso, explorando ligações fluviais entre os afluentes da margem direita do rio Paraná e os da margem esquerda do baixo Paraguai, a serviço do Senador do Império do Brasil, o Barão de Antonina, que conhecedor da Lei 601 que entraria em vigor a partir de 1850, pretendeu garantir posses de terras, nesta região.

Iniciando a primeira viagem em 1847, visando descobrir o melhor itinerário de ligação fluvial entre o Paraná, São Paulo e Mato Grosso, região essa que havia sido explorada pelos jesuítas espanhóis precedentes do Paraguai e mais tarde pelas Bandeiras Paulistas dos séculos XVII e XVIII.

Somente no ano de 1847, 14 de junho, deu a termo a exploração, a ponta pé inicial para a criação de um núcleo que daria origem direta e indiretamente a fundação de Nioaque, fazendo a rota fluvial: Tibagi, Paranapanema, Paraná, Ivinhema e Brilhante, de onde por um varadouro, marcha a pé, atingiu o Nioaque, pelo qual navegou até a confluência deste com o Miranda, permanecendo na Estância da Forquilha, de propriedade do Major João José Gomes, que por determinação do Presidente da Província de Mato Grosso, João José da Costa Pimentel, desejoso que essa providência viesse atuar assinaladamente no povoamento da fronteira do baixo Paraguai, prosseguindo daquele ponto através do Miranda, até o Presídio e Povoado de Miranda e Albuquerque.

3.7.1.8 Nos relatórios do Governo Provincial de 1848 - relatam este itinerário, salientando que esta via, mais antiga que a de Camapuã, que foi melhorada por intermédio do Barão de Antonina; acrescenta que esta via pode ser de muita vantagem para o comércio do baixo Paraguai com a Comarca de Curitiba, da qual o Senador fazia parte, e para o estabelecimento de fazendas de criação de gado[7].

É bem verdade, que diversos outros pioneiros estiveram na região, porém por não se dispor de registros, no momento seus nomes permanecem ocultos na história.

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3.7.2 Fundação da Cidade de Nioaque

Este item trata das questões específicas sobre a fundação do povoado, que deu origem a atual cidade de Nioaque.


3.7.2.1 Porto de São João de Antonina – No ponto da confluência entre o Nioaque e o Urumbeva, foi denominado de Porto de São João de Antonina, topônimo atribuído por Joaquim Francisco Lopes, de algumas documentos citados extrai-se o seguinte: Em 8 de Abril de 1849, Joaquim Francisco Lopes para dar forma e finalidade do que se propunha e com o apoio que recebia do Presidente da Província de Mato Grosso, assenhorou-se, da região da foz do rio Urumbeva no Nioaque, fincou dois esteios de Piúva, gravando as letras “B” e “A” – Barão de Antonina e numa tentativa de povoamento, reuniu alguns aventureiros, índios e pessoas vindas do Povoado de Miranda, construindo algumas palhoças, abrindo lavouras, denominando de Porto de São João de Antonina. O nome, porém não pegou, e devido a forte oposição dos índios[8], pouco depois foi abandonada, porém não esquecida.

3.7.2.2. Colônia Militar de Anhoac – Para o Porto de São João de Antonina ou Colônia Militar de Anhoac, o Governo Imperial, também determinou em 1849, que se instalasse um destacamento militar de vinte e cinco praças de linha[9], que deveria conter em respeito os índios, garantir o povoamento, oferecer segurança às embarcações provenientes do Paraná com destino a Miranda, Corumbá, Cuiabá.

Este Destacamento Militar ou Colônia Militar, na verdade nunca chegou a ter existência neste período de 1849, é possível que tenha havido a presença de alguns poucos militares, face às proximidades com Miranda. 





Mapa panorâmico pontos antigos e atuais, localidades e rios.

No entanto, foi graças ao fruto dessa navegação que possibilitou iniciar neste ano o povoamento na confluência dos dois rios, no local denominado de Barra e que deu origem a atual cidade.

No ano de 1849, João da Costa Pimentel, presidente da Província e Comandante das Armas de Mato Grosso, sentindo a precariedade da segurança do território de sua jurisdição, principalmente na fronteira na parte Sul, colocando guarnição no Fecho dos Morros, local conhecido como Pão de Açúcar, colocou uma guarnição de vinte e cinco homens.

A partir deste ano de 1849, ativou a navegação pela rota dos Rios Brilhante e Nioaque. No próprio Relatório Província[10], escrito em 1849, o Presidente da Província, assim caracteriza:

“Este emprehendimento com a valente proteção que lhe dá o Governo Imperial, ha de sem duvida progredir e ja temos recebido alguns carregamentos vindo pôr esta via. As carreiras são menos trabalhosas e em muito menos que as carreiras de Camapoã. Avaliando se em oito leguas a extensão do varadouro, bem como da preparação dos meios de transportes para as cargas e canoas, foi pôr ordem do Ministerio incumbida a um official superior d’esta Provincia, cuja disposição mandei pôr dois destacamentos de tropas de linha”

Vejamos o resultado deste empreendimento, malogrado em partes o plano dos seus idealizadores entre outras causas: 


a) O Porto do Rio Brilhante, ficou desde logo abandonado em virtude da quase impossibilidade da navegação projetada;


b) A abertura da navegação no Rio Paraguai, encurtando o prazo da travessia, apesar de ser maior o percurso, mas melhorado o conforto, causou o abandono da rota Brilhante-Nioaque. Entretanto, o Posto, Porto ou Colônia de Nioaque, localizado no pontal dos rios Nioaque e Urumbeva, conseguiu sobreviver com alguns poucos casebres. As primeiras casas do Povoado de Nioaque foram construídas em 1850, por Joaquim Francisco Lopes, permanecendo estagnada até o ano de 1853.



Imagem mapa, destaque a Serra de Maracaju, representa no sentido Norte-Sul o grande divisor do território sul mato-grossense: divisor de nascentes de rios, altitudes, tipo de solo, fatores climáticos e geológicos. Nioaque - Mapa- VISÃO GERAL DO RELEVO
Fonte: Mato Grosso do Sul Geográficos – CD- SED/MS.2010.


Conforme, referência da época, registram a data de 23 de Novembro de 1853, como a data oficial da fundação da cidade de Nioaque, quando o responsável pela fundação da Colônia Militar de Miranda, o Capitão João Ribeiro, sob a invocação de Santa Rita, que ficou sendo a Padroeira da cidade, deu definitivamente o assento de fundação. O Capitão conseguiu reunir diversos grupos de moradores, índios aldeados no Urumbeva e Ariranha, pessoas oriundas de Miranda e de moradores das fazendas da cercania. Nesta ocasião, o povoado foi transferido da confluência do Nioaque e Urumbeva, para o local onde se encontra atualmente. Esta transferência sucedeu-se face às medidas de segurança e salubridade do local.

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3.7.2.3 Das denominações atribuídas a cidade: de São João de Antonia - para Santa Rita de Leverger; seguindo - para Santa Rita de Urumbeva; - para Santa Rita do Anhoac.


Por ocasião da fundação oficial, o povoado foi batizado com as confusas denominações, mas que apresentam segundo as análises as conclusões seguintes:

a) São João de Antonia – denominação dada por Joaquim Francisco Lopes em Homenagem ao Barão de Antonina – João da Silva Machado. Não Fixando a denominação, permanece em desuso.


b) Santa Rita de Leverger – Santa Rita, destacada pelos moradores pioneiros, família dos Barbosas e Lopes, como a Santa Protetora. Na ocasião da Constituição Imperial, havia a fusão da Igreja Católica e do Estado, desmembramento que ocorrerá, em 1891, com a Constituição Republicana. Todas as Localidades recebiam o nome de uma devoção católica. Leverger, nesta época, 1853, governava a Província de Mato Grosso, o Barão de Melgaço, Augusto João Manoel Leverger[11],o qual governou Mato Grosso por cinco vezes, consagrando-se como um dos mais importantes administradores no regime imperial. Semelhante aos dias de hoje, para homenagear alguma personalidade do meio político atribui o seu nome a estabelecimentos públicos, rodovias, cidades, ruas. Houve uma tentativa de homenagear Leverger atribuindo seu nome ao povoado, associado ao da Santa Padroeira, Rita de Cássia. A denominação de Leverger, não fixa, permanece em desuso. Porém permanece a invocação de Santa Rita.


c) Santa Rita do Urumbeva – Santa Rita, a padroeira; Urumbeva, denominação do Rio, afluente da margem direita do Nioaque. Foi da confluência do Urumbeva com o Nioaque que possibilitou o aumento do volume das águas do Nioaque, que daria melhor trânsito de navegação fluvial, por ocasião do itinerário – varadouro – Brilhante Nioaque. Há de considerar-se também que Urumbeva era o nome da Fazenda, e a confluência dos rios Nioaque e Urumbeva estavam situados dentro da área da Fazenda. O nome Urumbeva também não fixa, perece, permanece o de Santa Rita.


d) Santa Rita do Anhuac – Santa Rita, a protetora, Anhuac, nome primitivo do rio Nioaque. Rio Anhuac foi o balizador para a integração fluvial entre as Bacias Hidrográficas do Paraná e Paraguai pela região Sul do Mato Grosso – tendo como interligadores, os Rios Brilhante e Nioaque.

Este pode ser considerado o topônimo que assegurou o batismo do povoado, mas chamado de Nioac e não Anhuac, sobre a proteção de Santa Rita.


Em 1854, chegou definitivamente o destacamento Militar, aquartelando-se nas imediações do local onde encontramos a Escola Estadual Odete Ignêz Resstel Villas Bôas.

Em 1856, precedente do Litoral, passou pelo destacamento militar de Santa Rita de Nioac, ou anhoac, como ficou denominado o povoado, o comandante das Armas de Mato Grosso e o 2º Batalhão de Artilharia à Pé. De dezembro de 1857 a fevereiro de 1858, permaneceu em Nioac, o Engenheiro, 1ºTenente de Artilharia F.C. Souza Pitanga, que a estudou minuciosamente em todos os seus pontos estratégicos. 

Concluído os estudos, determinou a transferência em 1859, do Corpo de Cavalaria e o Comando do Distrito Militar da Vila de Miranda, para o povoado de Nioac. Mais enfoques poderão ser lido no Capítulo VI – Esboço da presença Militar em Nioaque. Conforme descreve Miguel Ângelo Palermo[12] ”Em 1859, abandonado pelo governo o projeto que manifestara no ano anterior de fazer de Miranda uma praça militar, provavelmente por ver que aquele ponto não tinha a importância estratégica que lhe atribuíam, além de ser pouco sadio por causa dos alagadiços que a cercam, acrescendo ainda ser de difícil comunicação direta na fronteira na estação chuvosa, resolveu o mesmo governo que fossem mudadas para Nioaque não só a parada do Corpo de Cavalaria, como a sede do distrito. Esta mudança foi o que contribuiu para levantar o conceito daquele ponto quase desconhecido e desde então a povoação foi tomando notável incremento entrando em uma era de verdadeiro progresso”.

Inicia-se assim, definitivamente o Povoamento e fundação da Cidade de Nioaque, tendo o seu progresso atrofiado em 1865, por ocasião da invasão e ocupação paraguaia.



Fotografia ilustrativa dos primeiros tempos de Nioaque, onde os tropeiros com seus cavalos e tropa de gado foram os desbravadores dos sertões no território de Nioaque abrindo estradas e estabelecendo posses de fazenda com a criação dos mesmos animais. (Álbum Gráfico de Mato Grosso, 1912.

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3.7.2.4 A Fundação da Cidade de Nioaque


A Questão das Festas de – 22 de Maio de 1845


Até o ano de 1995, comemorava-se a data do aniversário da Cidade de Nioaque no dia 22 de Maio, dia da Padroeira da Cidade de Nioaque – Santa Rita de Cássia, portanto – 150 anos (1845 – 1995). Esta data realmente não representa a fundação da cidade de Nioaque, mas, o marco decisivo do povoamento do Planalto de Maracaju, do qual Nioaque faz parte. Foi a partir de 1845, quando Inácio Gonçalves Barbosa, estabeleceu-se na fazenda denominada Passa Tempo, entre os Rios Vacaria e Brilhante e Gabriel Francisco Lopes no Apa. Intensificaram-se as migrações de famílias pelas margens dos Rios Nioaque, Urumbeva, Miranda, Brilhante, Ivinhema, Vacaria, Dourados, Apa e dezenas de outros ribeirões, com estabelecimento de fazendas com a criação de bovinos, cavalos, aves, suínos, ovinos, árvores frutíferas, agricultura de subsistência: milho, mandioca, cana-de-açúcar, feijão, abóboras, melancias, ananases. Sendo tronco das primeiras gerações os sobrenomes: Barbosa, Lopes, Garcia, Leal, Azambuja, Fernandes, Souza, Rosas, Lemes, Pereira. 


a) Dia 22 de maio – quanto ao dia 22 de maio, a sua compreensão está nos fatos histórico-religiosos. Nesta data é comemorada a Festa de Santa Rita de Cássia.


b) Santa Rita de Cássia é a protetora das causas impossíveis, situações embaraçosas, difíceis de resolverem.

A devoção veio trazida sendo as tradições populares pelos antigos povoadores que ingressaram através da divisa de Minas Gerais – São Paulo com o Norte e Leste Sul Mato-grossense, que já conservavam em seus oratórios particulares a imagem e devoção desta que guiava os costumes e crenças religiosas. A devoção foi introduzida através dos Patriarcas dos Barbosas, disseminada a outras famílias através dos entrelaçamentos conjugais e relações amistosas. Ocasionalmente, o dia da Padroeira e Protetor religioso eram comemorados com festança, tal nos dias de hoje. Estas festas sempre serviram para o congressamento de diversas famílias e envolve deste as tradicionais novenas, orações, peditórios, agradecimentos, e comilanças.

O espírito religioso sempre foi reinante entre os povoadores do passado, fé sem a qual muitas vezes não teriam suportado tantas privações por estes sertões inóspitos.

Em tempos imemoriais era comum denominarem os rios, os acidentes geográficos, as cidades, os nomes das pessoas, os estabelecimentos comerciais, as propriedades, as ruas, com os nomes dos Santos do Calendário da Liturgia Católica.

Não há nenhum documento disponível no momento que comprove que a cidade de Nioaque foi fundada no dia 22 de maio.

Os fatos registram que Santa Rita de Cássia entrou na vida de Nioaque desde a chegada das famílias de Inácio e Antônio Gonçalves Barbosa, cuja devoção prosseguiu entre alguns dos seus descendentes. Santa Rita de Cássia ficou sendo a Padroeira do então povoado de Nioaque, tendo em vista que, a fazenda Urumbeva, da qual foi desmembrada a área que sediou a fundação do povoado e hoje cidade, era de posse de Manoel Gonçalves Barbosa, Filho de Inácio Gonçalves Barbosa, que doou a área para a fundação do povoado, ajudou a construir as primeiras casas, depois os quartéis militares, forneceram alimentação, negociaram gado e cavalos com os moradores e militares. A devoção foi introduzida porque a Família já festejava em seu oratório a devoção a Santa. Quando os povoadores e autoridades se estabeleceram em Nioaque, incorporaram naturalmente a devoção à Santa.

Oficialmente, a devoção a Santa Rita de Cássia como padroeira de Nioaque foi estabelecido no ano de 1877, cujo conteúdo do Decreto[13] Provincial nº 5 de 8 de maio e o de nº 506 de 24 de maio, estabelecem que:

“Artigo 1º - Fica elevada a cathegoria de Freguesia com a denominação de Levergeria e sob a invocação de Santa Rita, o Povoado de Nioac”.


Este decreto criou a Paróquia de Levergeria (Nioaque) e consagrou a Santa Rita a sua Padroeira[14].


Freguesia, termo eclesiástico, é o mesmo que Distrito/Paróquia, a Constituição Imperial de 1824, instituía a Religião Católica como a religião oficial do Império do Brasil e a Igreja Católica submissa ao Estado. Embora o Decreto tenha sido assinado no mês de Maio, no entanto, não foi na data de 22 de maio. Apenas confirmou o culto a esta Santa que já era cultuado entre os seus moradores desde antes da Guerra com o Paraguai.

A instituição da data festiva do aniversário da Fundação da cidade de Nioaque foi introduzida no dia 22 de maio de 1957, por sugestão do cidadão Adão Villas Bôas e Américo Bernardes, ao então Prefeito Municipal, Senhor Hortêncio Gomes, para junto comemorar os festejos religiosos de Santa Rita. O festejo religioso além de tradicional apresentava um significado maior que o da festa política.

Entretanto, Demosthenes Martins em documento[15] enviado ao então Prefeito Municipal, Dario Pires Peixoto em 1966, chama a atenção ao fato de:


“Quando do convite para assistir às festividades do aniversário de Nioac que o calendário marca para 24 de maio, adverti ao prezado amigo de que já é tempo para retificar-se esse equívoco, que indica 24 de maio como data da Fundação da sua cidade.”

Isto significa, que os festejos sobre a fundação de Nioaque estavam incorporados às festividades de religiosas de Santa Rita. E o dia do aniversário político era 24 de maio. Data esta que marca a criação do Distrito ou Freguesia no ano de 1877.

De acordo com informações coletadas entre autoridades nioaquenses[16] a data de 22 de maio como data da fundação da cidade, começou a ser incorporadas no calendário das festas municipais, a partir dia 11 de outubro de 1977, quando da divisão de Mato Grosso e Criação de Mato Grosso do Sul. A partir de 1979, com a instalação do novo governo, os municípios sul mato-grossense começaram a buscar o resgate da sua história política. As autoridades, governadores Deputados, Senadores, Secretários, normalmente visitam os municípios por alusão as festividades do aniversário da cidade. Este fato político e histórico, levou as autoridades nioaquenses a adotarem 22 de maio como aniversários da cidade, porém sem nenhuma base de sustentação oficial, legal, mas baseada nas tradições.

Assim sendo, baseados nas pesquisas, não há nenhum embasamento legal que diga que 22 de maio seja a data do aniversário de Nioaque[17].

É bom lembrar, que até 1957, não se comemorava nenhuma data festiva relativa ao Município fundação ou emancipação política, os únicos festejos e os mais importantes eram os da Padroeira da Paróquia e da Cidade de Nioaque, Santa Rita de Cássia[18].

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3.7.3 Criação do Distrito e Município[19] de Nioaque

3.7.3.1 Distrito - Em 24 de maio de 1877, através dos Decretos Provinciais nº. 5 e 506, assinado pelo então Presidente da Província de Mato Grosso Hermes Ernesto da Fonseca foi criado o Distrito de Nioaque. Nesta ocasião recebeu a denominação de Levergeria.


Levergeria (Nioaque), passa a ser sede de distrito e Paróquia (Freguesia) de Santa Rita, no Município de Miranda, então Província de Mato Grosso, do Império do Brasil.

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3.7.3.2 Município – Levergeria (Nioaque) foi elevada à categoria de Município no dia 18 de Julho de 1890, sendo desmembrado do Município de Miranda, recebendo a denominação de Vila de Levergeria, conforme Decreto Estadual nº 23, assinado pelo então, 1º Governador do Estado de Mato Grosso, da República dos Estados Unidos do Brasil, General Antônio Maria Coelho.


Fotografia na Fazenda Forquilha, a mais antiga na região de Nioaque, na confluência do Rio Nioaque ao Rio Miranda, com a criação de gado vacum e cavalar, década de 1920.

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3.8 A CERTIDÃO QUE ATESTA A FUNDAÇÃO DA CIDADE DE NIOAQUE


Nos textos acima transcrevemos todas as fontes bibliográficas que tratam sobre a fundação da cidade de Nioaque. Entretanto, transcreveremos a seguir um dos relatórios de Joaquim Francisco Lopes de 1848 e 1849, quanto trata sobre a fundação, no dia 8 de Abril de 1849.

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“ITINERARIO[20]
DE JOAQUIM FRANCISCO LOPES


Encarregado de explorar a melhor via de communicação entre a Provincia de S. Paulo e a de Matto-Grosso pelo Baixo Paraguay


(Offerecido ao Instituto pelo seu socio correspondente o Sr. Barão de Antonina).”

1. A Sétima Expedição ou Entrada


Joaquim Francisco Lopes realizou diversas Expedições oficial[21] seguindo sempre as ordens e financiamento do Barão de Antonina, destacando sempre o Itinerário das viagens exploradoras empreendidas para descobrir uma via de comunicação entre o Porto e Vila Antonina e o Baixo Paraguai na Província de Mato Grosso feita entre os anos de 1844 a 1847.

A primeira Entrada entre Porto Feliz e Cuiabá, 1845.

A segunda Entrada, em 1846, explorando a região do rio Tibagi.

A terceira Entrada, 1846, continua a exploração pelas margens do Tibagi.

A quarta Entrada, 1846/1847, exploração dos afluentes da margem esquerda do rio Paraná, Tibagi e Paranapanema.

A quinta Entrada, 1847, exploração da região, margem esquerda do rio Paraná.

A sexta Entrada, iniciada em 14 de junho de 1847, cujo objetivo principal foi o de descobrir um transito fluvial, embarcando no rio Tibagi para se chegar na então Província de Mato Grosso, através das trilhas e rios Paranaíba, Ivinhema, Vacaria, Miranda e Paraguai. Nesta viagem, Joaquim Francisco Lopes fizera o reconhecimento de todas as terras no alto e embaixo da serra de Maracajú, rios Brilhante e Nioaque, Miranda, esteve nas sede das fazendas dos irmãos Antonio, Inácio e Francisco Gonçalves, como atesta o texto “O[22] rio Avinheima (ou tres Barras) tem a sua origem na serra de Maracajú, nos campos de Xerez ou Vaccaria, onde as suas vertentes principais são conhecidas pelos nomes de Vaccaria, Brilhante, Santa Maria e Dourados e fazem contravertentes com os rio Branco, Mondego (Miranda) Anhuac (Nioaque) e Aquiduano (Aquidauana)...”


Esta sexta Entrada, sem dúvida, foi importantissima para o levantamento topográfico e fluvial entre o alto e baixo da serra de Maracajú tendo como referencial os dois rios, Brilhante e Nioaque, balizadores entre os extremos, para o rio Paraná e para o Paraguai, passando pelas terras que mais tarde dariam origem à fundação de Nioaque. Mas este é o assunto da sétima Entrada, que será transcrita e comentada nos tópicos seguintes.




“Exm. Sr. Barão de Antonina[23]. – Havendo-se V. Ex, dignado de encarregar-me de ir fazer a setima exploração por conta do governo para verificar a possibilidade da abertura de uma via de communicação entre o Porto de Antonina e a Provincia de Matto-Grosso pelo Baixo Paraguay, tenho a honra e a satisfação de poder certificar a V. Ex. Por ver coroados os seus empenhos e os seus generosos esforços com esta magnifica descoberta, peço licença para lhe fazer uma rapida e succinta explicação da minha viagem, para que d'ella se depreenda o pouco que ainda resta a fazer afim de consolidar o muito que se realisou”.


2. Inicio da Sétima Entrada – Rumo a Fundação de Nioaque


Dia 3 de Agosto de 1848 foi o inicio da Sétima Entrada que teve o embarque no ribeirão das Congonhas, afluente do rio Tibagi, este afluente do Paranapanema e este do Paraná, hoje em território do Estado do Paraná, com uma comitiva de 19 pessoas, distribuída em quatro canoas, participando moradores da Província de Mato Grosso e Comerciantes.


“Depois de haver recebido de V. Ex as instrucções que a este respeito se dignou dar-me a 3 de Agosto de 1848, parti a embarcar-me, o que effectuei a 27 de Outubro do mesmo anno no ribeirão das Conconhas.


Esta expedição cujo commando me estava confiado compunha-se de nove pessoas e de um interprete ou linguará[24] , que havia ido do Aldeamento de São João Baptista[25] Acompanhavam-se Francisco[26] Gonçalves Barboza, Paulo Rodrigues Soares e José Maria de Miranda, Moradores d'aquella provincia de Matto-Grosso e que na minha antecedente exploração me haviam seguido para esta Provincia e mais o negociante Antonio Felippe com seus camaradas ou homens de comitiva, e que perfazia ao todo dezenove pessoas embarcadas em quatro canoas.


3. A partida e algumas dificuldades – de Congonhas ao Paraná

Destaca os problemas de navegação pelos rios pelo baixo volume de água, o encontro de uma enorme panela de barro e a separação do grupo, os Mato-grossense, Francisco, Paulo e José partem na frente, deixando Joaquim Francisco Lopes cumprindo parte da sua missão, ainda na região do Paranapanema, entre elas a da localização do local onde foi uma antiga missão jesuítica do século XVII.


Debaixo de um céo benigno e ao aspecto de uma natureza magnifica e encantadora, começamos a nossa viagem, fazendo deslizar as canoas no remanço das águas do ribeirão das Conconhas, até irmos dar ao rio Tibagi; e depois de seguir este até a sua foz, sahimos no Paranapanema, demorando-nos n’esta viagem fluvial cerca de tres dias, por estarem os rios um tanto esgotados[27], e ter-nos sido preciso abrir alguns canaes, dos quaes os mais baixos são os das Sete Ilhas e os baixios da Ilha de São Francisco Xavier, onde existiu a antiga Redempção d’este nome, fundada pelos Jesuitas, e abandonada no anno de 1631.


Extraído do Atlas Histórico Escolar – MEC, 1967

N'este mesmo dia percebemos que além do Paranapanema, cousa de duas legoas, se estava lançando fogo, e que folhas esvoaçando, vinham cahir nas aguas que abriamos, e mostravam ser de taquarys e arvores, e não de campos. Conjecturo que este fogo fôra lançado pelos indios selvagens da nação Chavantes[28].


No dia seguinte prosseguimos a viagem, passando felismente por canaes, travessões e baixios, até chegarmos á cachoeira das Laranjeiras, em cujo canal grande apenas passava o da a agua, e por isso tivemos de descarregar as canoas, e passa-las com algum custo pelas ondas que as aguas faziam por se acharem represadas n'este logar. Depois de transportada as canoas para um logar mais distante, e havermos tornado a arrumar as respectivas cargas, fizemos pouso no mesmo lugar em que haviamos antecedentemente pernoitado com o Sr. Luiz Pereira de Campos Vergueiro, onde então suportamos alguns dias de tempestade.


Poucos instantes depois de ali estarmos percorrendo alquiles lagares, uma pessoa da comitiva achou uma colossal panela de barro cozido, com dez e meio palmos de circumferencia e sete e meio de boca, bem trabalhada em roda ao que parece, por ser muito desempenada e regular no diametro, tinha apenas o fundo arruinado.

Ao amanhecer do imediato dia continuamos viagem, passando uns rebojos de agua, e passando pelos baixios de Pirapó, fui abarcar-me defronte á sua embocadura no Paranapanema, com a resolução de ahi fazer estanciar as cargas, afim de ir dar principios ás explorações que me haviam sido recomendadas nas instrucções de V. Ex.

Como eu teria de demorar-me, os companheiros de viagem Francisco Gonçalves Barboza, Paulo Rodrigues Soares e José Maria de Miranda, teimáram a prosseguir n'este mesmo dia a sua viagem, mostrando-se bastante dezejosos de chegarem a suas moradas, que ainda assim distavam d'aqui cincoenta e sete legoas no rio Vaccaria.

Desembarcado, foi meu primeiro cunhado procurar os vestigios d'onde foi a Redempção de Nossa Senhora de Loreto abandonada pelos Jesuitas em 1631, e subindo pelo rio Pirapó[29], e encontrando com baixios e corredeiras, saltei em terra a examinar a propriedade do terreno e margens do rio, em que só achei mattos firmes proprios para cultura, boas madeiras, e abundancia de fructas silvestres, como laranja azedas, sem verificar onde foi a tal Redempção, o que só com o tempo e vagar se poderá descobrir; pois segundo algumas memorias deve estar situada neste rio, meia legoa acima da sua embocadura no Paranapanema.

Este rio de Pirapó é correntoso, e o seu leito é de pedra, tendo boas proporções para ponte e passagem a váo”.


4. Do Paraná ao Ivinhema, a entrada pelo território mato-grossense e o encontro com os índios Caiuás


Deixando as águas dos afluentes da margem esquerda do rio Paraná, Joaquim Francisco Lopes e comitiva, adentram ao território mato-grossense, através dos rios da margem direita, entre eles o Ivinhema.


Este caminho já era do conhecimento de Joaquim, da Expedição efetuada anteriormente, a sexta Entrada. O encontro com os índios Caiuás é feita na base da troca de presentes, procedimento costumeiro desde os tempos do descobrimento do Brasil.

É interessante, não só neste relatório das Viagens de Joaquim Lopes, as instruções para o abordamento no tratamento com os indígenas encontrados pelos caminhos, além dos presentes, pedia-se que os tratassem com cordialidade. Em diversas passagens chama a atenção das autoridades do Império e da Província quanto ao abandono, o descaso que muitas populações indígenas se encontravam.

Joaquim, além de sertanista, fora um defensor dos povos da selva. Reconhece nos índios comportamento de beijar a mão, herança dos seus antepassados catequizados em aldeamentos, cuja pratica de beijar as mãos dos padres jesuítas era um procedimento de respeito à autoridade sacerdotal. Pernoitam entre eles, comem dos seus alimentos, milho assado, paca assada, cará, tingas, etc. Faz referência interessante sobre a atividade agrícola de subsistência, pois são bons agricultores, produzindo milho, mandioca, abóboras, batatas, amendoins, jucutupé, caras, tingas, fumo, algodão. Faz uma descrição geral sobre seus usos e costumes, armas, indumentárias, indústria, comportamento, atividades das mulheres.


“No dia 12[30] regressei com chuva e continuei minha viagem; e encontrando alguns baixios, cheguei a 16 no rio Paraná, atravessei-o com véla aberta, entrando á direita na foz do rio Samambaia, que subi até fazer pouso no bracinho dos Kagados, D’aqui continuei a examina-lo até desaguar no Ivinheima, por onde fui subindo até o dia 22, em que deparei com uma pequena canoa amarrada em frente a uma ilha, onde estava um rancho e palhas de milho verde, pelo que julguei ser pouso de indios, que ali andvam pescndo, como indicavam os pesqueiros e canoas que depois fui encontrando.

Chegando a um porto mais frequentado, e onde eu na antecedente viagem havia encontrado muitos indios Cayuas[31], de nação Guarany, soltei em terra com o linguará, levando algumas ferramentas e bijuterias, Pouco depois encontrei-me com o Cacique Libanio, que vinha acompanhado de mais quatro indios, os quaes cumprimentei em lingua guarany e offereci as ferramentas que levava. Em alegre recepção comemos alguma carne de paca assada, até que chegaram as canoas da minha comitiva, o que percebi pelo estrondo dos tiros; bem como chegaram outros muitos indios que por meu pedido o cacique havia mandado chamar para eu os presentear.


Índios caiuás – MS.

Compenetrado da eficacia de um bom tratamento prodigalisado a estes pacificos filhos das florestas, eu me empenhei pôr por obra as salutares e constantes recommendações, que V. Ex. nos tem feito, de empregar sempre o meio da persuação e da brandura para com elles, por ser este o único meio de os chamar á communhão social. Aos abraços que com affecto lhes dava, elles me correspondiam com confiança, buscando beijar-me a mão, o que attribui a costume herdado dos jesuitas, porque é muito provavel fossem instruidos seus antecessores, até que a extincção d’aquella ordem e as violencias que posteriormente contra elles se perpetraram os tornou a lançar n’esta vida uma abnegação selvagem, de que urge ao governo[32] de S.M.I. remi-los.

Por via do meu linguará me dirigi especialmente ao cacique Libanio. Este indio é de proporções atlethicas, alto, reforçado e de uma physionomia insinuante, respirando nas maneiras franqueza e magnanimidade, bem como em suas conversações muito tino e raciocinio. Pedi que mandasse formar a sua gente em cordão e que estendessem as mãos direitas, sobre as quaes eu fui repartindo os presentes que V.Ex. lhes mandava, sendo muito para notar que elles sem se atropellarem uns aos outros e mostrando a maior circumspecção, agradeciam á sua moda, e se mostravam muito contentes. Ao cacique colloquei eu na cabeça um barrete vermelho, e cingi-lhe a tiracolo a caneta que serviu a V. Ex, quando commandante superior da guarda nacional, e com cujos presentes elle se mostrou muito satisfeito, a ponto de fazer com o corpo retirado algumas marchas de um para outro lado. Depois de se lhes acalmarem um pouco estas impressões, disse-lhe por meio do linguará, que havia um grubixá que era tão protector e amigo dos indios, que o chamavam Pahy-Guassú, e que a gente da sua nação elle tinha aldeado e dando vestimentas, com que elles estavam satisfeitos e reunidos. Que era elle quem lhes mandava aquelles presentes e que aquellas insignias tinham sido do seu uso e que por isso as estimasse.


Pelas subsequentes perguntas que lhe fui fazendo, deprehendi que este cacique, de cujas boas disposições e pela cathegoria que parece occupar entre os mais caciques, de que é major, se podem colher grandes vantagens para a cathequese; elle tinha vindo muito criança do lado do Paraguay, confundindo-se assim n’aquellas hordas, até que a sua valentia e prudencia o elevou áquelle posto. É casado, e á sua mulher elle chamava em máo portuguez mesclado de hespanhol D. Maria Roza do Rozario. Segundo as proprias informações por elle dadas computo em quatro mil indios os por ali aldeados. Há debaixo das suas ordens mais de sete caciques, e elle me disse que sua gente era tanta como terra, o que dizia tomando punhados de terra entre as mãos e atirando-a.


N’isto veio a noite, e nos dispuzemos para pernoitar aqui. Uma rede de embira[33] me foi offerecida para descançar; bem como era presenteado a cada passo por elles, com milho assado, cará, tingas[34], etc. A noite passei-a aqui em claro pelas impressões que havia recebido e mesmo por cutella, e ao amanhecer do dia 23 soube por intermedio do linguará com o cacique que Francisco Gonçalves Barbosa e seus companheiros haviam levado uns tres indios de sua nação que se achavam pescando, e os levaram para ajudar a pescar na canoa, por cujo trabalho lhes dariam roupa e ferramenta, mostrando-me um tronco de arvores onde vi escripto o seguinte: - Sr. Lopes. – D’aqui levo tres indios. – F. Barboza.

N’isso chegou o cacique acompanhado de outras muitas indias, que eu recebi com presentes, com que ellas se mostraram muito satisfeitas.

Caminhando depois d’isto para a aldêa, ficando aqui as indias. Pelo caminho, em distancia de duas legoas encontrava familias que sabendo da minha chegada vinham apressadas satisfazer a sua curiosidade de ver gente estranha e receber presentes, que com effeito fui repartindo. Chegamos em fim ao aldeamento, impropriamente assim chamado, porque as casas acham-se disseminadas e como por bairros. Entramos em um rancho coberto de caetê, sendo outros cobertos de folhas de jerivá[35].

A aldêa é colocada entre as suas roças ou lavouras, que abundam especialmente em milho, mandioca, aboboras, batatas, amendoins, jucutupé, caras, tingas, fumo, algodão, o que tudo é plantado em ordem; e toda época é propria para a sementeira, porque vi milho a nascer, a emborrachar e a colher-se. É porém esta paragem falta de agua corrente, e servem-se das produzidas pelas cacimbas.


Incessantemente concorriam indios a visitar-me, aos quaes eu presenteava; e não obstante as distancias, em menos de vinte e quatro horas afluiram mais de cincoenta arcos, não contando o mulherio, os moços e crianças, que tudo orçava para mais de duzentas cabeças.

O vestuario e trage d’estes indios Cayuaz, é o mesmo que usam os indios de São João Baptista no aldeamento do Rio Verde no municipio de Faxina[36]. Armado de Virotes, flexas e porretes, trazem em geral o beiço inferior furado, onde metem um botoque de rezina, que pela sua cistallisação imita o alambre. São todos de boa presença e bem talhadas proporções physicas. As mulheres occupam-se em fiar algodão para os vestuarios, torcem cordas de embira para uso da pesca e corda dos arcos; e de seus cabellos fazem uma tranças com que adornam a cintura de seus maridos ou irmãos, e o punho do braço onde bate a corda do arco, fazem também redes de ibirussú. As mulheres enfeitam-se com caramujos imitantes a missangas, e de ossos e de outras bijuterias, que ellas lançam ao pescoço e a que dão muito apreço.

As informações mais que pude colher foram que alem do Ivinheima não havia hordas de coroados; que os terrenos que habitam vão até o Iguatemi junto á serra de Maracajú; que tem d’aqui um caminho por terra que vai ao Paraná, ao qual se deve seguir sempre pela terra firme e boa, desviando os pantanos; pela margem do Ivinheima tem muitos capinzais, e que d’aqui em quatro dias se sahe n’uma grande agua, ms que encontrando por ahi os indios cavaleiros, de quem se temem e com quem tem guerra aberta, não tem ido lá mais vezes.

Estes indios não criam nem cães, nem galinhas; perguntando o motivo, responderam que o latido d’aqueles e o canto do gallo guiariam os inimigos para os atacar: criam bichos de pello e aves silvestres.

N’este dia fiz que os homens de minha comitiva com os piazes ou indios pequenos, dançassem um sapateado á moda de Coritiba, que os indios muito apreciaram. Durante todo o tempo de minha estada entre estes bons indios não houve obsequio que á sua moda elles não podigalizassem, e não foi sem emoção, e com promessa de nos tornarmos a ver que d’elles me despedi, o que verifiquei no dia 27, havendo lhe do todos os presentes de que eu podia dispôr, mesmo de minhas provisões e utensilios, como machados, enxós, goivas, etc, e não convinha expôr-me a mais demora por não ter com que brindasse os que depois concorressem, pois sei quanto se offende a sua susceptibilidade, quando não são tratados e brindados igualmente.


Caçando, pescando e mellando[37] prosseguimos a viagem até pousamos no dia 28 á esquerda do rio onde chega o campo firme, no qual vimos perdizes, e a 29 chegamos á foz do rio Vaccaria.”


5. No rio Vacaria, o assassinato de Francisco Gonçalves Barbosa e outros pelos por três índios.


Depois de uma estada agradável junto aos índios Caiuás e da informação da passagem dos Mato-grossenses radicados, Francisco, Paulo e José Maria, um acontecimento trágico abalou a expedição, foi o assassinato dos três viajantes por três índios da tribo Caiuás que deveriam servir de apoio durante a viagem até o alto da serra de Maracaju, no rio Vacaria e Brilhante.

Com a morte dos três, houve além do abatimento de Joaquim e comitiva, uma mudança na missão, pois agora precisaria descobrir os autores e prende-los pela autoridade policial competente, que nesta época, ficava na Vila de Miranda, hoje cidade e Município de Miranda.

“Desde a margem do Paraná até a foz d’este rio os matos são por vargeados e pantanosos estragados pelos fogos, que por um e outro lado elles tem lançado.


No dia 29[38] subimos pelo Vaccaria, e estando a almoçar, percebemos a esquerda uns corvo que esvoaçavam. Curioso de ver o que era, para ali me dirigi, e um espetaculo de tremenda angustia se me antolhou; os cadaveres de meus companheiros Francisco Gonçalves Barboza, Paulo Rodrigues Soares e José Maria de Miranda, ahi estavam mutilados e já em estado de putrefacção. O terror e a magoa que senti em presença d”esta scena não a posso descrever. Alguma roupa de cama de pouca monta era o que ahi se divisava junto aos cadaveres; tudo o mais tinha sido roubado pelos tres indios autores d’este cruel assassinato, á excepção de quatorze sacas de sal, que tinham deitado para o fundo do rio.

Tomei a cabeça[39] d’estes infelizes assassinados e o restos de seus corpos sepultei, colocando-lhes em cima uma cruz.


No dia 1º de Dezembro seguimos pelo Vaccaria que ia mui abaixo.

No dia 6 cheguei a casa do fallecido Barboza, a cuja desventurada viuva dei a fatal nova da morte de seu marido, que a deixou na consternação que póde imaginar-se.

No dia 7 seguiram as canoas para o porto do senhor Antonio Gonçalves Barbosa e d’ahi fui para a casa do Sr. Ignacio Gonçalves Barbosa[40], que se esmerou em obsequiar-me; e depois d’isso parti em direcção a Miranda, tendo alugado sufficientes animaes de monaria, em virtude das cartas de credito que V.Ex. me deu, as quaes muito me serviram para isto, e para comprar do preciso municio que gastava com minha escolta, conforme consta da conta por mim assignada, que com esta entrego nas mãos de V. Ex.


6. Do rio Vacaria ao Miranda, à Vila de Miranda, 1849


N’isto entrou o presente anno de 1849.


A 2 de Janeiro continuei a viagem e a 3 encontrei dous indios um de nação Layana e outros Terena, que vinham de fazer uma correria nas matas do Iguatemi, nas margens do Paraná. O fim d’estas correrias é captivar[41] outros, que sugeitam ou vendem, como antigamente se praticava com os infelizes indios, dando-lhes o nome de administrados. Um d’estes indios com quem entrei em conversação portugueza me ministrou dados e informações que me pareceram exactas sobre o lugar da existencia da antiga Redempção de Santo Ignacio, da qual há ainda vestigios nas vizinhanças dos rios Amambahy-guassú e Escupli[42].

No dia 6 cheguei a Miranda[43] e foi o meu primeiro cuidado ir entregar as cartas e officios de V. Ex, bem como requer acto de corpo de delicto nas cabeças dos infelizes assassinados, depois do que tiveram decente enterro com um acompanhamento o mais solemne que era possivel fazer-se em tal logar.”


7. De volta da Vila de Miranda a região do rio Vacaria

Caracteriza pela exploração dos rios que nascem na escarpa oriental da Serra de Maracaju, todos afluentes do Rio Paraná: Dourados, Santa Maria, Brilhante. Este último, o Brilhante tem sua nascente não muito longe da nascente do Nioaque, também na serra de Maracaju, porém na parte Ocidental, em baixo da serra.

Nesta parte do texto é possível acompanhar a tentativa de Joaquim e comitiva de localizar no sul do atual Estado de Mato Grosso do Sul, o caminho das antigas missões Jesuíticas que ocuparam parte do Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul e do Paraguai, nos séculos XVI e XVII, onde eram aldeados milhares de índios.

Destaca ainda o seu principal objetivo nesta sétima entrada: “o objeto principal da minha deligencia, qual o de marcar a navegação e varadouro das aguas do Paraná para as aguas do Paraguay.”

Oferece um dado histórico interessante sobre os nomes de origem atribuídos ao Rio Miranda: “Mbotethechu[44] ou Guaxihy, Mondego, segundo uma definição apresentada por Helio Serejo no Livro Nioaque um pouco da sua História, significa “Marrecos”

“A 12 voltei para o Vaccaria: falhei a 13 na fazenda da Forquilha[45] e a 17 cheguei na fazenda do Taquarussú[46] e a 20 na Boa Vista, residencia do Senhor Barboza[47], onde tambem chegaram a 21 os meus cargueiros e comitiva; sendo preciso demorar-me aqui em aprestos para ir sufficientemente sortido, visto que ia fazer demoradas explorações em diversos pontos.

No dia 12 de Fevereiro parti da Casa do Sr. Antonio Gonçalves Barboza na diligencia de explorar os rios que da serra de Maracajú vertem para o Paraná, e passando o Brilhante fiz por elle todas as indagações até as faldas d serra, e depois passei a fazer iguaes exames no rio Santa Maria até a mencionada serra, pois é este que faz contravertentes com o Mbotetheu, hoje conhecido por Mondego ou Miranda, e por isso foi preciso navega-lo; e ultimamente passei a fazer iguaes indagações no rio dos Dourados, então conheci que este rio, com quanto tenha bastante agua e grande espaço de navegação, vai fazer contravertente com o rio Appa que desagoa no rio Paraguay, onde há dous fortes dos Paraguayos, S. José e S. Carlos.

Como tivesse obtido as noticias que me deu o velho indio de Miranda, que entre as vertentes do Amambahy-guassú, Escupil, Iguatemi e Ivinheima havia ainda vestigios da Redempção de Santo Ignacio, estabelecida no tempo dos Jesuitas quando fundaram tambem Villa Rica e a cidade de Xerez, desci por terra com a minha comitiva atravessando uma grande camada de campo; porém este para os fundos na direcção do rio Paraná tornou-se intransitavel por causa de um maugão[48] de muitos anos, que da altura de um cavalleiro se havia traçado de tal maneira que não havia cavallo, por mais robusto que fosse, capaz de o romper; e em tal caso não podia continuar a exploração para aquelle lado sem primeiro queimar esses campos e esperar que dessem pasto para os animaes de meu transporte, o que dependia de quinze a vinte dias de demora, e então me faltavam os mantimentos, que já n’esta occasião estavam bem diminuidos.

Devo notar, que os rios Escupil e Iguatemi têem poucos galhos com origem nos campos por onde passei e logo se perdem no vasto sertão de mato que borda este ultimo desde a serra de Maracajú até as Sete Quedas. N’este giro que fiz, não me esqueceu de observar tudo quanto V. Ex. me havia recommendado nas instrucções de 3 de Agosto de 1848 e officios posteriores, e em consequencia caminhei muitas leguas, em diversos ramos, até achar uma antiquissima estrada de carretas, que se conhecia pelo terreno que havia afundado aquelle trilho, que com custo fui seguindo, passo a passo, até entrar em uma matta para as cabeceiras do rio Iguatemi em direcção da serra de Maracajú, e então ficou intranzitavel esse caminho, por causa das tranqueiras e matto cerrado; porém pude de alguma maneira verificar que esta é aquella estrada que da Redempção de Santo Ignacio e Villa Rica seguia para a Villa de Curuguaty, pertencendo ao Estado Paraguayo; pois confrontando esse rumo com o descripto na memoria que V. Ex. me havia dado do Hespanhol D. Manoel Antonio de Flores ao Marquez de Val de Lirios em 14 de Agosto de 1756, confere em tudo com o que observei.

Continuei com minha digressão por campos desertos, atravessando algumas vertentes com aguas para os rios Escupil e Iguatemi até a serra de Maracajú, que mansamente me offereceu sufficiente subida; e nas contravertentes caminhando algumas legoas, certifiquei-me serem aguas do rio Appa tributario do rio Paraguay, e em consequencia a rumo da nascente pelo costão da serra de Maracajú, vertente do Paraguay, a procurar as cabeceiras do rio Mbotethechu ou Guaxihy, hoje conhecido por Mondego ou Miranda e aos mesmo tempo procurar esse sitio onde demorou a cidade de Xerez, abandonada em 1648. Não achei vestigios que me orientassem para dizer com segurança – foi aqui – pois a campanha é espaçosa n’aquelle lugar e seria preciso cruza-la toda uma e mais vezes; porém há ahi uma lombada de arroios tributários do Mondego, onde necessariamente toda foi edificada essa povoação, de que só se poderá conhecer o logar quando aquelles campos se queimarem, e em seguida se fizer n’elles uma indagação minuciosa, o que eu não podia conseguir por ser outro o objeto principal da minha deligencia, qual o de marcar a navegação e varadouro das águas do Paraná para as aguas do Paraguay.”


8. Exploração das nascentes do Rio Miranda, rio Nioaque, Anhuac – 8 de Abril de 1849, o marco inicial da Fundação da cidade de Nioaque.


Até aqui, estamos transcrevendo toda a trajetória desta Sétima Entrada ou Expedição de Joaquim Francisco Lopes e Comitiva, para que o leitor possa viajar junto por estes sertões que só os índios o conheciam plenamente e que os primeiros homens bancos a pisar depois os espanhóis terem se retirados definitivamente foram membros de duas grandes famílias, os Barbosas e os Lopes, que até hoje deixam uma vasta descendência por todo o Estado do Mato Grosso do Sul.


O Mapa sinaliza em linha reta o trecho balizado entre as duas Bacias Hidrográficas, a Leste o rio Brilhante que se conecta com o Rio Paraná e a Oeste, o A confluência dos rios Urumbeva e Nioaque que se conectam com o Rio Paraguai. Este trecho entre os dois pontos dos rios é denominado e era percorrido via terrestre. O Balizamento dos dois portos, deu origem a cidade de Nioaque.

Entretanto, de todo o contexto deste documento, a parte principal para a nossa História Nioaquense e sul-mato-grossense é apresentar, aquilo que chamo de Certidão de Nascimento da cidade de Nioaque e de uma vez por toda transformar na data oficial do natalício de Nioaque.

Este documento é o mais antigo e prova verdadeira sobre a data de 8 de Abril de 1849 como Fundação da Cidade de Nioaque e Joaquim Francisco Lopes o seu primeiro Fundador. No dia 8 de Abril, verifiquei o logar do embarque e desembarque no rio Anhuac, em um ponto onde se lhe ajunta um arroio a que puz o nome de Ubumbeva, e ali finquei dois padrões de cerne Pinva[49], um na barranca do rio, outro no campo; onde gravei a era de 1849, e as letras iniciaes do nome e V. Ex. – B. de A. -

Joaquim sinaliza o local para a instalação da povoação, na forquilha dos rios Nioaque e Urumbeva. Exatamente, onde atualmente está situada a parte principal da cidade de Nioaque, está na topografia entre os dois rios.

“Verificando-me que estava nas vertentes do Mondego, passei a examinar o maior braço d’elle e reconhecer sua possança, e com effeito achei que elle tem sufficiente agua para navegação; porém obstruido de muitas pedras e travessões que a tornariam difficilima; e depois verifiquei melhor a insufficiencia d’este rio, quando subi de Miranda uma canoa exploradora, que não pôde senão com custo vencer muitos tropeços, até que voltou sem concluir a subida. Tendo feito quanto era possivel para bem examinar o mencionado rio Mondego, determinei fazer as competentes indagações do rio Anhuac e para isso era necessario chegar a Miranda, afim de fornecer-me de tantas cousa que precisava; e dirigindo-me para aquelle presidio cheguei a 15 de março, tendo gasto n’esta exploração 32 dias de continuas marchas e contramarchas; porque atravessava em muitas partes campos desertos, e por consequencia era forçoso encontrar logares onde não podia passar com a minha comitiva a cavallo, e bagagem de cargueiros com municio[50].

Cheguei a Miranda onde tive o prazer de achar o Sr. Major João José Gomes, que estando fazendo o serviço na cidade de Cuiabá, veiu com tres mezes de licença a estes lugares onde há pouco era meu digno commandante geral, e então mudáram-se as scenas a meu respeito, a bem da espinhosa commissão em que me achava; porque coadjuvado com toda a espontaneidade por este militar energico e dedicado a que se fanqueê esta via de communicação, tão recommendda por V. Ex, nas cartas que lhe dirigiu e de que eu fui portador, e então nada mais me faltou d’aquilo que estava ao seu alcance arranjar; visto a bem merecida influencia que goza em todo o Baixo Paraguay, seja ou não d’ahi commandante. Pedi ao Sr. Major uma canoa e alguns remeiros, o que elle fez appromtar com a brevidade que era possivel; de maneira que a 31 segui para a fazenda Forquilha, subindo o Mondego 16 leguas que em tanto calculei essa boa navegação; esta fazenda é do mencionado Sr. Major, e por consequencia elle mandou franquear-me tudo quanto eu d’ella precisasse; e até mandou que seu capataz José de Campos e dois camaradas subissem também na canoa, por serem muito apto n’esse serviço, e eu subi por terra, costeando rio pela margem direita, visto ser tudo por campo, apezar de coberto, como são quase todos da serra de Maracajú para o lado do rio Paraguay.

No dia 8 de Abril, verifiquei o logar do embarque e desembarque no rio Anhuac, em um ponto onde se lhe ajunta um arroio a que puz o nome de Ubumbeva, e ali finquei dois padrões de cerne Pinva, um na barranca do rio, outro no campo; onde gravei a era de 1849, e as letras iniciaes do nome e V. Ex. – B. de A. –


Da fazenda Forquilha ao mencionado logar marcado para o desembarque haverá doze legoas, e para que fique a navegação franca, em todo o tempo, é preciso desobstruir algumas testas que fazem muitos, porém pequenos baixios, no tempo secco; mas são formados por pedras de pouca consistencia, quase tabatinga, e mesmo com algum pedregulho e pedras soltas que é facil empurar para os logares profundos do mesmo rio e ao mesmo tempo destrocar o leito de muitas madeiras que ali tem cahido, porque este rio corre mansamente e não as faz rodar na occasião das enchentes.


D’este aprezivel logar com proporções para uma povoação colocadas da forqueta o Anhuac com o Urumbeva, fiz voltar a canoa e gente do Sr. Major, e eu com a minha escolta segui a atravessar a serra de Maracajú, deixando as águas do Anhuac e procurando as do Brilhante tributaro do Paraná.”


9. Joaquim Francisco Lopes Advogando em defesa dos índios sul-mato-grossenses


Muito pouco estudado por pesquisadores sul-mato-grossenses a atuação de Joaquim Francisco Lopes junto aos Índios. Considerando apenas o contexto diferente da missão, destaco a importância dos trabalhos de Joaquim Francisco Lopes com as do Marechal Candido Rondon. Rondon, em missão oficial procurou integrar o norte e o sul do Mato Grosso através da construção das linhas telegráficas com o restante do Brasil, principalmente a Capital Cuiabá e o Rio de Janeiro. Rondon contou com o apoio dos índios e foi seu defensor. Joaquim Francisco Lopes, também em missão oficial, através do reconhecimento dos rios, da vasta rede hidrográfica dos dois principais rios, o Paraná e o Paraguai, procurou integrar o sul da então Província de Mato Grosso com o Paraná e São Paulo e com a Capital Cuiabá e Rio de Janeiro. Joaquim Francisco Lopes também contou sempre com o apoio dos índios e foi um dos seus defensores, procurando chamar a atenção das autoridades competentes do Império do Brasil de D. Pedro II para as condições que viviam os nossos índios, miséria e guerras.

Joaquim Francisco Lopes, nosso primeiro defensor da causa indígena. A situação dos Caiuás dos tempos atuais, está pior que nos idos do século XIX. Hoje, a maioria continuam vivendo na região do planalto da serra de Maracaju por município de Maracaju, Dourados entre outros. Vivendo pequenas áreas de terra, muitos nas periferias das cidades, as margens das rodovias, prestadores de serviços pelas fazendas, à margem e a exclusão social; hoje não são mais pressionados pelos Guaicurus de outrora, mas pela vida das cidades, pelo alcoolismo, pelos latifúndios, desmatamentos, explorações do trabalho.

“Devo mencionar que enquanto caminhei no dominio das aguas da Paraguay atravessei campos cobertos de mui boa pastagem; porém logo que estive nas vertentes para o Paraná elles são limpos e de uma vista encantadora, um céo benigno, um clima regular, bem proprio ao Pirituva onde V. Ex reside; sendo todo este aprazivel terreno regado de cristalinas aguas. N’esta cochilha que faz divisão das aguas dos dous gigantes Paraná e Paraguay, passa o trilho os indios Mirandeiros, que de tempo a tempo vão fazer suas correrias contra os pacificos Cayuaz, cuja causa em advogaria senão tivesse consciencia de nada valer; porém V. Ex, que se tem dedicado a favor d’estes infelizes Brazileiros, que vagando errantes pelas florestas, tem procurado trazer alguns a civilisação, não poupando fadigas e nem as despezas, de que sou testemunha; que por diversas vezes tem repartido o que com a mão prodiga lhes tem V. Ex mandado para ser entregue, quando por ventura os tenho abordado, como ainda agora aconteceu, conforme acima tenho descripto.


Seria muito louvavel, que por intermedio de V. Ex. soubesse o Governo de S. Magestade Imperial as malversações e hostilidades que por vezes tem praticado os indios domesticados de Miranda, indo a caça dos Cayuáz que habitam a margem direita do Ivinheima até a esquerda de Escupil e Iguatemi, com o único fim de fazer prisioneiros os pequenos e algumas mulheres, em cujas occasiões o estrago e a morte se derrama nos bosques que servem de miseravel abrigo a estes infelizes, dignos de melhor sorte e de protecção do governo, a quem não podem chegar suas debeis vozes.”


10. A exploração do Rio Brilhante, a escolha do local para embarque e desembarque para chegar no rio Nioaque através do varadouro

Joaquim Francisco Lopes era um homem visionário com um tino aguçado de observação e uma natureza de ordem prática fundamental para esta época. Faz uma análise sobre as característica físicas da região que se encontra no alto e embaixo da serra de Maracaju. 


Analisa o tipo de clima, solo, vegetação, hidrografia, topografia apresentando as possibilidades do aproveitamento dos potenciais oferecidos pela natureza. O plantio da cana-de-açúcar, o café, o algodão tão necessário para o tear caseiro na confecção de vestuário doméstico. O plantio da cana-de-açúcar vem ocupando na atualidade grandes áreas do Estado de Mato Grosso do Sul na produção de álcool e açúcar, Maracaju, Sonora, Naviraí. Destaca com veemência a criação de gado vacum, cavalar e lanígeros, muito desenvolvido até os dias de hoje. A salinidade natural do solo e da água na região do Baixo Paraguai é uma evidencia real e muito tem contribuído na criação de gado.


Joaquim realiza a exploração das nascentes do rio Brilhante e baliza o ponto extremo, onde serviria de apoio para a navegação entre os dois grandes rios, Paraná e Paraguai. Brilhante, ponto extremo para inicio da navegação para o rio Paraná e o Nioaque, ponto extremos para iniciar a navegação para chegar ao rio Paraguai através do Miranda.


O Varadouro – a serra de Maracaju, é o divisor natural das águas entre os dois rios. Para transpor a serra fora balizado com um caminho de aproximadamente oito léguas, distância que separa o Nioaque do Brilhante. 


O ponto no rio Nioaque, ficou denominado de “São João de Antonina” e o do rio Brilhante de “São José de Monte Alegre”. O do Brilhante, estacionou. O de Nioaque, com a transferência do Corpo de Cavalaria de Miranda para cá, permitiu o crescimento do Povoado e subsiste até hoje.


“Voltando a proseguir na exposição das explorações que fazem o objecto d minha viagem, direi a V. Ex. que passando esse trilho dos indios fui descendo mansamente a serra de Maracajú , atravessando pitorescos campos, enfeitados com capões sortidos de boas madeiras, e entrecortados com águas limpidas que formam as cabeceiras do rio Brilhante.


No empenho de procurar um logar azado para desembarque dos objectos que forem conduzidos d’esta provincia de S. Paulo, achei uma forqueta que faz no Brilhante um ribeirão grande a que dei o nome de Santo Antonio: as aguas d’este braço com o do Brilhante, fazem uma largura de oito braças e um fundo de tres palmos, no tempo secco.


Este sitio na forqueta dos dous mencionados ribeirões é o mais apropriado que é possivel para se formar uma povoação, de maneira que em ambas as cabeceiras, digo cabeça de varadouro podem formar-se duas colônias ou prédios, com a differença unicamente do clima: porque em descendo a serra de Maracajú para o lado do Paraguay os campos são monotonos , e a maior parte cobertos, as aguas algum tanto salobras, e faz bastante calor, mas em compensação produz ali com vantagem a canna de assucar, que plantando uma vez não precisa replantar todos os annos, porque da soqueira ella dá melhor resultado por espaço de vinte e mais annos, e em conseqüência do clima da tambem muito algodão e café; porém d’este há unicamente um pequeno principio de plantação transportada por alguns Mineiros que de proximo tem ido habitar aquelles despovoados terrenos.


O gado vaccum, cavallar e lanigero produz muito sem dependência de se lhes dar sal, o que não acontece n’esta bella campanha, que da mencionada serra procura a margem direita do grande rio Paraná, esse rio encantador, por causa das muitas ilhas de diversos comprimentos que por elle estão semeadas: de maneira tal que da nossa navegação, quando atravessamos para baixo na distancia de doze léguas, só n’um lugar em pude ver com certeza de um lado a barranca do outro.


Marcado o logar do varadouro tive de fazer novas apromptações que era mister para a navegação e sustento da minha escolta e das praças de pret de que era acompanhado por ordem do Exm. Sr. Presidente de Matto-Grosso, que apezar da distancia em que está a sua residencia em Cuyabá deu todas as providencias para que nada me faltasse afim de eu desempenhar esta árdua commissão, e por este motivo aceitará benignamente d’este fraco sertanista os mais sinseros agradecimentos que é possivel dirigir-lhe, pois não tenho outros meios de reconhecimento.


Forçoso foi outra vez valer-me das franquezas do Sr. Major João José Gomes, que estando ainda em Miranda ouviu minha supplica, e me mandou uma canoa de sessenta e um palmos de comprimento, quatro de boca e tres de fundo, que fiz atravessar o varadouro e que acommodou a minha escolta e dez praças de pret, e mais um linguará que me deu o sr. Furriel Antonio Dias Lemos, commandante do destacamento que me acompanhava.

O novo varadouro terá oito a nove léguas: atravessei n’este pequeno trajecto uma pequenas restingas[51] de mata carrascal, a que chamam tavóca [52] que se encontra muitas vezes nos campos cobertos da serra de Marcajú para o lado do rio Paraguay

No 28 de Junho apartou-se de mim o Sr. Furriel[53] com o resto da sua gente para ir embarcar no rio Vaccaria, no porto do Sr. Barboza, com meu companheiro de viagem Antonio Felippe e mais gente, inclusive uma familia enferma que quis passar do Baixo Paraguay para esta Provincia; e eu com minha escolta, soldados e linguará embarquei no Brilhante para fazer minha viagem, e nos encontramos na Juncção que faz o Vaccaria com o Ivinheima, o que verificamos no dia 12 de Julho, como adiante farei menção.


N’este logar que marquei e que ficou sufficientemente assignalado para o desembarque indo d’esta provincia, tem sufficientes capões com madeira e abundancia de alvenaria para se construir o caserio de uma grande villa entre esses dous esgalhos de arroios que mencionei, e por isso que é mui abundante de água (até para fabricas) o mencionado logar.


Finalmente embarquei no dia 29 de Julho, e comecei a descer o Brilhante, que no tempo secco offeece uma porção de baixios até o ribeirão da Cachoeira, que tem cinco braças de largo e tres palmos de fundo, porém com um repigente que de mais dous palmos de água desaparecem todos os baixios; mas por prevenção devem-se preparar os canaes, porque a mór parte das pedras são movediças, e quebra com alavancas alguns travessõeszinhos para ficar franco: isso tudo não se torna custoso se for encarregado d’este serviço o Sr. Major João José Gomes que tem uma bem merecida ascendencia nos indios Terenas e Layanas do Presidio de Miranda, a quem póde fazer vir aquelles logares para desobstruir o Brilhante, enquanto demanda menos água, e tambem o Anhuac, e ficar franca a navegação na cabeceiras dos mencionados rios; e eu me offereço a coadjuva-lo por ter bastante pratica da maneira com que fazem estes canaes. Do embarque até este logar gastámos cinco dias, e haverá seis léguas por causa das sinuosidades do rio.

Continuamos a descer encontrando sempre diversos ribeirões de um e outro lado que vinham engrossar as aguas do Brilhante, até que chegamos no dia 5 ao arroio Sete Voltas, e no dia 7 ao rio Santa Maria, bastante Correntoso, com dez braças de largo e quatro palmos de fundo, e de maneira que o Brilhante n’este logar tem vinte e cinco braças de largura, e d’aqui para baixo perde o nome pelo de Ivinheima.” 


11. Joaquim Francisco Lopes retorna a aldeia dos índios Caiuás

Joaquim Francisco Lopes fora um estrategista e diplomata de fazer inveja aos atuais profissionais do nosso tempo. O texto a seguir nos mostra essa lição. O retorno de Joaquim para a aldeia dos índios Caiuás tinha um objetivo específico, identificar os autores do assassinato de Francisco Gonçalves Barbosa e seus companheiros, prendê-los e conduzi-los para o presídio que se localizava em Miranda. Depois de ter concluído a sua missão exploradora, que era a de encontrar um varadouro entre Curitiba, Província do Paraná e Cuiabá, Província de Mato Grosso, através dos afluentes dos rios Paraná e Paraguai. O que foi concluído entre os rios Brilhante e Anhuac, o Nioaque, além de balizar os dois pontos, um dos quais deu origem a atual cidade de Nioaque.


Na aldeia indígena, Joaquim reconquista a confiança do Cacique e sua gente, participam dos festejos próprios da sua cultura e depois arma uma estratégia para revelar o assassinato, apresentando as três cabeças que trazia em uma canastra, uma espécie de baú e em seguida solicita do cacique a colaboração para a identificação dos índios que ao invés de cooperadores transformaram-se em assassinos.

Nas entrelinha, Joaquim descreve como era a organização de governo dos Caiuás, destacando o cacique Libaneo como o Líder maior e a ele subordinado mais sete caciques.


“Da foz do ribeirão da Cachoeira á do rio Santa Maria , que ambos entram pela margem direita tem oito léguas, e por terra cinco.

No dia 11[54] chegamos á foz do Dourados, que entra no Brilhante pela margem direita, com vinte braças de largura e oito palmos de fundo, mui correntoso, de maneira que todos estes ribeiros e rios fazem aqui a largura de quarenta e cinco braças.

Da foz do Santa Maria á do Dourados haverá por causa das voltas do rio quatorze legoas , e por terra oito, o que calculei quando descia com minha escolta por terra, conforme fica descripto.

Continuamos nossa viagem e a 12 com cinco legoas de navegação chegamos a juncção do rio Vaccaria, que entra pela margem esquerda do Ivinheima, com vinte braças de largura; e ali achamos a escolta que desceu pelo mencionado rio Vaccaria, que reunida á que me acompanhava, fez o numero de quarenta e sete pessoas, inclusive vinte praças de pret.

A 14 seguimos em seis canoas que conduziam a mencionada gente e a 17 chegamos perto dos Indios Cayuaz, que dista do rio Vaccaria doze legoas; e me admirei de me achar ali uma cruz preparada e fincada por estes selvagens, que cada vez mais me convence de sua propensão a nosso respeito, e que com jeito, maneiras e muitos presentes do que necessitam se domesticaraõ e aldearaõ definitivamente n”este porto, que tem para isso as melhores proporções por causa de ser situado em terreno alto e arejado; com a vantagem de estar na confluencia de um ribeirão de muito boa agua que entre no Ivinheima pela margem direita.

Descarregarei as canôas e fiz abarracamento n’este logar. Parti depois em direção ao seu aldeamento, levando em minha companhia sete pessoas e o lingará. Pelo caminho ia eu encontrando mais alguns ranchos que não tinha quando por ali passei, e alguns indios que eu não tinha visto, e que quando me avistavam deitavam a correr; sendo necessario eu mandar-lhes gritar pelo linguará e annunciar-lhes quem eu era; o que os fez apasiguar. Então um velho cego trajado com um cinto de pennas amarellas circundando-lhe a testa, com um instrumento feito de porengo[55] em uma mão e um pennacho de pennas de avestruz[56] na outra; e uma velha com uma especie de bandó[57] na testa, e um bumbo feita de taquaruçú, tocaram e cantaram a sua moda quanto lhes pareceu. A estes sons apresentou-se no terreiro outro velho, que manejando, com o arco empunhado na mão esquerda e uma porção de flexas na direita, e me fez uma especie de continencia respeitosa e de alegria conforme me explicou o linguará. Ao cabo d’isto, abracei-os e comecei a repartir com elles tijolos de rapadura, de que levava uma grande porção. Havia aqui uma especie de pia com uma cruz, e perguntando por via do linguará para o que aquillo servia, responderam que para baptisar as crianças. Indaguei logo pelo cacique Libanio e soube que já o havia mandado chamar; e pelas quatro horas da tarde effectivamente chegou cançado de correr e alegre por este encontro. Recebi-o com tiros de alegria e vivas, com o que elle se mostrou penhordo, dizendo-me que lhe havia promettido seis luas para voltar e que gastara oito, e que lhe parecia que eu me houvesse esquecido d’elle. Certifiquei-o de minha amizade e perguntei-lhe por sua mulher. Amanhã ella virá, me respondeu elle. Fui repartindo os presentes, reservando para o immediato dia alguma porção, afim de obsequiar as mulheres e crianças. Ajuntou-se lenha e ao calor de uma extensa fogueira nos deitamos, conversando e banqueteando grandes assados de charque, que havia tirado de minhas provisões, e que elles devoravam com grande appetite, restando para nós outros os presentes que elles me faziam de cará, mandioca, milho, etc.


Dispostos assim os animos, entrei eu com as necessarias precauções, a indagar o assassinato perpetrado pelos tres indios nas pessoas dos meus infelizes companheiros.

Disse-lhe que desejava saber quem eram os indios que haviam acompanhado a canoa de Barbosa, por quanto parece que ella havia afundado e que não sabendo os meus companheiros nadar, e os homens d’elles muito bem, desejava em saber, onde e que se tinham perdido, etc.


De todas estas indagações deprehendi que os assassinos estavam entre elles e julguei prudente disfarçar e declinar para outra hora os projectos de captura-los, o que especialmente ali me tinha levado, porque urgia dar um exemplo de punição.

Dansas de homens e mulheres ao som de instrumentos de sua invenção, e de uma rebeca encordoada de tocum, a qual me disseram que possuíam elles de herança havia muito tempo, formaram o alegre entretenimento d’aquella noite. O cacique cada vez me prendia mais com suas maneiras, e nenhum momento sahiu do pé de mim, dando-me em máo portuguez o nome affectuoso de camarada.

Ao amanhecer do immediato dia fui ao encontro do cacique, a quem recebi com muitos vivas e tiros de alegria, trazendo ela na sua companhia sessenta a setenta pessoas, com quem reparti alguns presentes.

Ficando alguns na aldeia, fiz encaminhar os outros para o porto n’uma alegre romaria ao som de musicas, onde chegámos, sendo recebida a cacique e mulheres por uma familia de Matto-Grosso que commigo vinham para esta provincia. Vestida a cacique com roupas que lhe offereceu uma familia, dispuz a gente da comitiva, e tratando tanto a cacique como seu marido com particular distincção, fiz-lhe as devidas continencias; depois do que nos puzemos a gozar um grande jantar que eu de antemão havia disposto. Este dia passou-se n’uma geral alegria, e elles com as suas danças, e nós com cantarolas á moda de Curitiba e Cuiabá acompanhadas por violas. 


No dia 19, depois de um grande almoço, mandei puchar as canastras da barraca e trazel-as para o terreiro, pedindo ao cacique por intermedio do linguará, que mandasse dispor a sua gente a dous de fundo o que elle fez, formei os soldados da mesma sorte em frente a elles e que tudo formava um parallelogrammo, a cuja cabeceira ficou o cacique, á minha direita, todo o restante dos indios e de minha comitiva fechavam o fundo.


Tomando então um ar grave, como o caso pedia, fiz ver ao cacique, que os Indios que haviam acompanhado Barboza e seus companheiros os haviam assassinado, roubado e estragado o que elles conduziam em sua canôa . Disse-lhe que o nosso governo mandava castigar a nós outos quando fazíamos mal a sua gente, e que assim elle devia entregar os assassinos, para exemplo e para que elles todos não ficassem com a nota de matadores.

Quando eu havia acabado de expôr este facto, seis de entre os indios sahiram á frente, e dirigindo-se ao cacique lhe disseram no seu idioma, quem eram os assassinos e aonde estavam, accrescentando que o terceiro, chamado Sandú, havia descido o rio na canôa roubada, com sua familia e que é provavel que se fosse arranchar pelo lado do rio Sammambaia confluente no Paraná.

Ordenou então o cacique que uma grande escolta da sua gente fosse em busca dos dous delinqüentes e os trouxesse alli, o que elles fizeram, voltando a noute e trazendo os assassinos prezos. Um chamava-se Manni, Marianno, e é sobrinho da Cacique e o outro chama-se Taringoá, Estevão. Foram entregues ao commandante da nossa escolta, Sr. Furriel Antonio Dias Lemos, que d’alli os levou para seu destino até o forte de Miranda, ficando-me apenas quatro praças de pret para a minha guarda.

Penhorado com este testemunho de confiança e docilidade da parte do cacique Libaneo, dei-lhe muito conselhos para que admoestasse a sua gente, a fim de não fazerem mal a nós outros, que o mesmo lhe succederia. Aconselhei-lhe igualmente que se aldeassem em logar mais conveniente e que contasse com a protecção do governo e com os favores do Pahy-Guassú, conforme já tem praticado com outros da sua tribu, ao que elle mostrou vivos desejos de assim o fazer, pois que a sua gente era muita, e que elle tem subordinados na sua visinhança mais sete caciques.

A noite que precedeu a nossa despedida foi passada com solemnidade e tristeza e duas pessoas amigas que vão dar-se um adeos e talvez eterno.


Elle entrou na barraca onde estavam os prezos, e consolou-os, dizendo-lhes que não iam a morrer, mas sim que iam ser soldados.

Depois de um dia de falha para officiar as autoriddes esta captura e para fazer um rancho, onde deixei muitos viveres sob a guarda d’este cacique, e fazer differentes sementeiras de legumes, partimos com saudações de amizade.”


12. Desfecho final



Depois de mais de 12 meses de expedição entre a data de partida e chegada, Joaquim e sua comitiva chegam ao final de uma das suas mais longas viagem de Exploração, reconhecimento e demarcação de pontos estratégicos. Foram ao todo 120 léguas, aproximadamente 120 X 6= 720 km, setecentos e vinte quilômetros de distância percorrida, entretanto, somando ida e volta, teremos 720 x 2= 1.440, totalizando aproximadamente mil quatrocentos e quarenta quilômetros.


“Depois de trez dias de viagem abarraquei-me n’um bracinho do Paraná, que desagoa no Ivinheima, e daqui mandei uma deligencia com o fim de capturar o terceiro assassino, cujos signaes e informações me havia dado o proprio cacique.

No entanto que se fazia esta tentativa eu fui examinar no Ivinheima a melhor passagem para o melhor caminho de terra, que se projecta do porto de embarque no Tibagy a atravessar o Paraná.

Caminhando por espaço de dez a doze legoas pelo baço direito do Ivinheima, lançando fogo nos varjões, encontrei de surpreza, n’este transito uma familia cayuá que anda pescando, a qual não podendo evadir-se no momento, approveitei o linguará para lhes gritar e dizer que não procuramos fazer-lhe mal, e que eu era aquelle já antes havia estado no seu alojamento com o cacique Libaneo, o que elles comprehenderam muito bem por ter sabido do meu encontro com o mencionado cacique quando há oito mezes subia o Ivinheima.


A mulher d’este índio era uma tagarella espirituosa que não cessava de falar com o meu linguará, para que me persuadisse de seu contentamento por encontrar brancos que não lhes faziam mal e que os tratavam muito bem: depois de demorar-me dua horas com esta familia, presentei-os com os fracos estoques que ainda tinha, dando-lhes porção de anzoes que muito estimaram para pescar com menos custo os peixes de que fazem seu maior sustento; e então despedi-me d’elles, que me ficaram observando até dobrar um estirão de rio.


N’esta paragem existe uma gruta natural, formando uma especie de casa, que tem commodidades para se abrigarem seis ou oito pessoas.

N’esta occasião verifiquei não ser possivel tal caminho por terra; por que o braço do Ivinheima faz sua descarga no Paraná defronte a foz do rio Ivahy, dez legoas abaixo da foz do Paranapanema.

A 29 chegamos[58] ao abarracamento, onde encontrei a gente da diligencia que não hvia podido capturar o deliquente, que esta vez ainda me escapou; e assim reunidos, atavessamos no dia 31 o rio Paraná, e embarcamos no rio Paranapanema e a 13 de Agosto chegamos ao ribeirão das Congonhas, onde desembarcamos e mandei a fazenda do Sr. Jeronimo pedir animaes de montaria e de carga para nosso transporte e d’alli fui supprido com outros para sahir do sertão, atravessando esta estrada de dez legoas, que V. Ex. já mandou fazer em minha ausencia de maneira que a 3 de Setembro já me achava na fazenda da Fortaleza e salvo de tantos perigos que sempre offerece um sertão bravio e uma navegação feita a maior parte pela primeira vez, a qual passo a mencionar para conhecimento de V. Ex. e do governo, em nome do qual V. Ex me mandou, e a quem servi como pude, senão como devia.

Do presidio de Miranda, subindo o rio Mondego até a fazenda da Forquilha – 14 legoas.


Dessa fazenda, subindo o rio Anhuac, até onde marquei o lugar do desembarque – 12 legoas.


N.B. O Varadouro terá 8 a 9 legoas por campo.


Do porto de embarque que marquei no rio Brilhante, descendo até o ribeirão da Cachoeira – 6 legoas.


D’alli ao rio Santa Maria – 8 legoas.


N.B. N’esta juncção o Brilhante perde este nome pelo de Ivinheima.


Do Santa Maria ao rio Dourados - 14 legoas.


Dos Dourados a foz do Vaccaria - 5 legoas.


D’esta juncção ao porto dos indios Cayuás – 12 legoas.


D’alli descendo sempre o Ivinheima até o ferrado dos Kagados – 8 legoas.


Distancia do ferrado a sahir no Paraná - 4 legoas.


Subindo o Paraná e atravessando-o até a confluencia do rio Paranapanema – 3 legoas.


Subindo este até á confluencia do rio Tibagi – 24 legoas.


Subindo o Tibagi até o Ribeirão das Conconhas – 4 legoas.


D’alli ao nosso porto de embarque, na confluencia que o arroio Jatahy faz no rio Tibagi pela sua margem direita – 6 legoas.

Total do percurso – 120 legoas.

Ilmº e Exmº Sr. Barão de Antonina.

Joaquim Francisco Lopes,

Encarregado das Explorações.”



Itinerário Fluvial de Joaquim Francisco Lopes iniciada em 3 de Agosto de 1848 e concluída no dia 3 de setembro de 1849. Percursos de volta: Vila de Miranda (MT.) Rios Miranda, Nioaque, Brilhante, Vacaria, Ivinhema, Paraná, Paranapanema, Tibagi Porto de Jati (PR.)


[1] Informações coletadas com os moradores mais antigos.


[2] O mesmo que Freguesia, circunscrição eclesiástica.


[3] Vila de Levergeria.


[4] Redescoberta, tendo em vista que desde o início do século XVI a região já havia sido percorrida por exploradores espanhóis, e bandeirantes, além das missões Jesuíticas.


[5] O Guia Lopes.


[6] Hoje no município de Guia Lopes da Laguna, margem a rodovia que interliga com o município de Bonito.


[7] O contexto descrito aproxima alguns registros históricos sobre a ocupação da região. O Capítulo IV há a transcrição de uma escritura de terra, onde estão mencionados os nomes de outros povoadores e compradores de terras. O Capítulo X registra os nomes de diversos outros proprietários de terra da época.


[8] Provavelmente que sido os índios Guaicurus e não Terenas, considerando que os primeiros sempre apresentaram resistência desde os tempos dos espanhóis, e em virtude da sua tradição guerreira, enquanto que os Terenas, sempre foram mais dóceis ao processo de aculturamento, tanto é, que diversos foram combatentes na Guerra do Paraguai ao lado da Coluna Camisão.


[9] Militares de carreira profissional.


[10] Op. Cit. 20 e 21.


[11] Leverger, quando nomeado então Capitão de Fragata, para governar a Província de Mato Grosso, acumulou as funções de Comandante das Armas pela Carta Imperial de 27 de Outubro de 1850 e investido no cargo de Presidente da Província no dia 11 de fevereiro de 1851.


[12] Op. Cit. 27.


[13] Documento original e manuscrito, fornecido pelo Arquivo Público de Mato Grosso, Cuiabá, 1984.


[14] Ver Capítulo VII, Fragmentos Religiosos.


[15] Op. Cit Ref. 36.


[16] Dados coletados entre 1984 a 1987.


[17] No início dos anos 80, quando transferi residência para Nioaque e passei a lecionar e participar da vida da comunidade lembro-me perfeitamente que realizei diversos questionamentos sobre o que realmente estava sendo comemorado. Nos convites oficiais, nos discursos dos palanques, nas faixas de homenagem havia referências que assim diziam: “Parabéns Nioaque pelos seus 140 anos de Fundação” outros, “Parabéns Nioaque pelos seus 140 anos de Emancipação Político Administrativo”. Para a população e autoridades era festa da cidade, para mim, professor festa do que? Desafios criados que estimularam a realizar estes fragmentos de pesquisa.


[18] Para brilhantar os festejos religiosos de Santa Rita, é que os idealizadores introduziram nesta data a comemoração do aniversário da cidade de Nioaque como um ato histórico e político. É bom que se diga, que esta comemoração não apresentava uma definição clara quanto a sua intenção: alguns falavam em fundação, outros em emancipação política administrativa, conforme registros em atas e jornais da época. No final do Capitulo VII, há uma dedicatória especial à Santa Rita de Cássia.


[19] No Capítulo XVII, Evolução Política de Nioaque, apresenta a integra dos documentos que se referem à criação do Distrito e Município.


[20] Documento extraído da Revista do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro, vol 13 – 1850 – paginas 315 a 335, titulo: “Itinerário de Joaquim Francisco Lopes Encarregado de explorar a melhor via de comunicação entre a Provincia de São Paulo e a de Mato Grosso, pelo Baixo Paraguai, em 1848. Cópia fotocopiada fornecida pelo Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, presidência de Hidelbrando Campestrini. Transcrição, notas e comentários são da minha autoria, Julho de 2004.


[21] Revista do Instituto Histórico Geografico Brasileiro – ref. 10 – ano 1848, citados entre as p.153-160.


[22] Op. Cit p.174.


[23] No Capítulo III – há referências ao Barão de Antonia. Sugiro a leitura


[24] Linguará ou linguaral, interprete dos brancos junto aos bugres e vice-versa. Nesta época, a expedição passava por territórios que estavam ocupados por diferentes grupos indígenas, dos rios Paraná ao Paraguai. No contato com os indígenas se fazia necessário a presença de uma pessoa conhecedora do idioma dos brancos, o Português, e o dos índios.


[25] São João Baptista no aldeamento do Rio Verde no município de Faxina, Paraná.


[26] Francisco Gonçalves Barbosa, filho de Francisco Apolinário Gonçalves Barbosa, comerciante no século XVIII, na então Província e Minais Gerais, na região de Sabará. Irmãos de Antonio, Inácio, João Francisca Gonçalves Barbosa.Influenciado pelos Lopes veio residir próximo ao rio Vacaria com sua família e seus dez filhos, ainda menores e depois em baixo da serra de Maracaju. Foi um dos pioneiros na ocupação das terras nesta região do Estado. Sugiro a Leitura dos Livros: Os Barbosas em Mato Grosso, de Emilio Gonçalves Barbosa e Origem Histórica e Bravura dos Barbosa, e Ledir Marques Pedrosa.


[27] O mês de Agosto geralmente é um período extremamente seco com baixo índice pluviométrico, final do inverno para a Primavera, conseqüentemente, os rios possuem baixo volume de água e as vegetações estão mais secas, propicias aos incêndios.


[28] Atualmente os principais grupos de índios Xavantes estão localizados nas Aldeias do Estado de Mato Grosso, entre os Municípios de General Carneiro, Barra do Garças, Nova Xavantina. Foram considerados grandes guerreiros e que resistiram em aceitar a catequização dos bancos.


[29] Rio Pirapó, atualmente localizado no Estado de São Paulo, afluente do Paranapanema.


[30] 12 de outubro de 1848.


[31] Os atuais Guarani se dividem em: Mbya, Ñandeva e Kaiowá – Caiuás – Atualmente no Os guarani-caiuás são cerca de 3 mil em Mato Grosso do Sul. Crianças são grande número da população. Há grande maioria vivem em pequenas áreas, muitos são os desaldeados, vivendo as margens das rodovias, por exemplo Guia Lopes da Laguna – Maracaju, outros trabalhando em fazendas, usinas ou nas periferias das cidades.


[32] Governo de Sua Majestade Imperial, D. Pedro II.


[33] Embira, um tipo de cipó, cuja casca fornece uma fibra, embira, que serve tanto para fazer amarrações. Os índios usam para tecer as suas redes de dormir.


[34] Tingas, uma espécie de cágado, jabuti da água doce. No texto, parece que é tratada como um tipo de vegetal, não encontramos outras referencia.


[35] Jerivá, o mesmo que jeribá, uma espécie de palmeira. Caetê, o mesmo que caitê, hoje muito usada como planta ornamental


[36] No atual Estado do Paraná.


[37] Melando, é o mesmo que ir ao mato colher mel


[38] 29 de Novembro de 1848.


[39] Joaquim Francisco Lopes, enterra os corpos e leva junto com as sua bagagem as três cabeça, que servirá de prova mais tarde, uma atitude ousada e estratégica.


[40] Antonio e Ignacio Gonçalves Barboza eram irmão de Francisco que fora assassinado pelos índios e que ocupavam terras no alto e baixo da serra de Maracaju. Por exemplo, onde se assentou a cidade de Nioaque, na ocasião fizera parte das Propriedades de Ignacio. Segundo Emilio Gonçalves Barbosa, os Barbosas em Mato Grosso, p. 19 “Doou mais tarde ao Governo da Província, uma gleba (Nioac) para um posto avançado de exército, afim de deter o progresso da invasão paraguia, que ele previa, mais cedo ou mais tarde. Deu-lhe o nome de Santa Rita de Ainhauáque


[41] Capturar.


[42] Segundo os manuscritos de Joaquim Francisco Lopes e John Henrique Elliot, cópia Im-fol 44 pag num ref Lata 92 – Pasta 10 – Documentos (copia cedida por Hidelbrando Campestrini) tras as referência quanto ao nome dos rios seus significado em denominação portuguesa e indígena. Assim temos: Paranapanema era chamado pelos indios Caiuás de Paculy. O rio Ivinheima era chamado pelos índios de Iraquy, Iraty, rio de muitas ondas. Rio Amambaí também fora conhecido pelo nome de Samambaia, chamado assim por causa das muitas samambaias que tinha nas suas margens. Rio Claro, também chamado de Escopil ou Ijahy, afluente do Iguatemi


[43] Neste Período de 6 e Janeiro de 1849, o Povoado e Miranda era o único núcleo urbano de todo este sul de Mato Grosso e possuía um destacamento militar. As demais regiões estavam sendo ocupadas por posseiros e pelos diferentes grupos indígenas espalhados por todo o território do sul da Província de Mato Grosso.


[44] Há também grafia de Mobotetei.


[45] Na confluência do rio Nioaque no Miranda.


[46] Fazenda Taquarussú, o rio lhe empresta o nome. Hoje, no atual município de Nioaque.


[47] Antonio Gonçalves Barbosa.


[48] Capim nativo na região, que por não ser queimado, apresentava-se impenetrável.


[49] Piúva.


[50] Monícios, alimentação básica da comitiva.


[51] Restingas, Pequeno matagal, à margem de um ribeiro em terreno fértil. Terra e vegetação que emerge do rio nas enchentes e inundações. Estreita e longa mata que separa dois campos de pastagem


[52] Tavóca, o mesmo que taboca, uma variedade de taquara.


[53] Furriel, posto militar, entre cabo e sargento do tempo do Império.


[54] Dia 11 de Julho de 1849.


[55] Conhecido por alguns pelo nome de cabaça, por outros de “porungo”.



[56] A ave silvestre abundante pelos campos do Mato Grosso do Sul, é conhecida pelo no de Ema, uma vez que a avestruz é uma ave de origem africana. A Ema é conhecida como a Avestruz do Brasil em virtude da sua grandeza.


[57] Bandó penteado feminino que assenta dos dois lados da testa.


[58] 29 de Julho de 1849.

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