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sexta-feira, 6 de maio de 2016

TÓPICO 2 - NIOAC E A INSTALAÇÃO DA REDE TELEGRÁFICA 1905




PASSAGEM DE MARECHAL RONDON


A visita do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon e comitiva na  ocasião da construção da linha Telegráfica e revitalização do Cemitério dos Heróis da Retirada da Laguna  – no ano de 1905,  ao lado do Túmulo  do Coronel Camisão e Coronel Juvêncio.
(Rondon, de chapéu, à frente, mãos cruzadas)

Foto Extraída do Relatório dos Trabalhos realizados de 1900 a 1906 – Major de Eng. Cândido Mariano da Silva Rondon, Departamento de Imprensa Nacional, 1949-RJ. 


           
Com as tecnologias modernas de comunicação, telefone fixo, celular, internet, rádio, fax, satélite e tantos outros as gerações atuais desconhecem ou ouviram falar algumas histórias sobre o telégrafo.   No início do século XX as principais cidades e regiões do então Estado de Mato Grosso uno, antes da divisão,  foram integradas pelo sistema de comunicação conhecida  por telegrafo.  




www.colegioweb.com.br. Imagem/2015


            O Telegrafo desta época consistia basicamente da transmissão de comunicação mediante fios condutores ou ondas eletromagnéticas, por impulsos elétricos, em forma de sinais acústicos.  Embora nos tempos modernos desenvolveu-se tecnologia de diferentes processos de transmissão e recepção dos sinais, desde os que escrevem automaticamente na estação receptora como impressões telegráficas ou caracteres comuns de escrita; nessa época o mais usado, o telegrafo de Morse, simples, nele o emissor usa um manipulador que acionado envia impulsos largos, (linhas), e curtos, (pontos).    No lugar de recepção, o impulso atua sobre um eletroímã que mediante uma alavanca

            Assim entre os anos de 1900 e 1906,  a comissão de linhas telegráficas do Estado de Mato  Grosso, chefiada pelo Major de Engenharia Candido Mariano da Silva Rondon rasgam os sertões de Norte a Sul e de Leste a Oeste do Estado fazendo levantamento topográficos, ficando postes, estendendo linhas (fios) e estabelecendo os pontos intermediários, as estações telegráficas, postos de recepção e transmissão de mensagens.    Conforme escreve o próprio Rondon:

 “Onde quer que chegue o telégrafo, por mais recôndito que seja o lugar, ali far-se-ão sentir os benéficos influxos da civilização.  Com o estabelecimento da ordem obtido pela facilidade com que os Governos podem agir no sentido de melhor superintender e distribuir o bem público e a justiça, vira fatalmente o desenvolvimento  do homem e das industrias, pois ficará instituído o comércio contínuo entre as sociedades, no mundo moral e no mundo físico.   A facilidade de comunicações, determinando o estreitamento de relações dos povos entre si,  o nível moral deles cresce forçosamente sempre que aqueles melhoramentos se realizam em qualquer região[1].”

            Quando concluída a construção das linhas telegráficas entre Cuiabá – Coxim – Aquidauana – Corumbá, estudou-se então a construção de um ramal que pudesse atingir a fronteira do Estado com o Paraguai, Porto Murtinho e Bela Vista.   Decisão esta que viria beneficiar diretamente a cidade e Município de Nioaque.  Município de Nioaque, porque as regiões onde estão as cidade e Município de Guia Lopes da Laguna, Jardim e Bela Vista nesta ocasião  faziam parte da área territorial  do Município de Nioaque.

            Embora hoje não haja mais vestígios dos postes da antiga linha telegráfica, mas outrora percorria  o centro da cidade de Guia Lopes da Laguna, a Fazenda Jardim, cortando pelo Cemitério dos Heróis da Retirada da Laguna, percorrendo pelos locais onde hoje é o centro da cidade de Jardim e daí ganhando rumo Oeste.

            Para que se possa conhecer como sucedeu-se esta construção da linha telegráfica entre Aquidauana e   Porto Murtinho descreverei trechos do relatório do Próprio Rondon, passando por Nioaque, Fazenda Jardim e Cemitério dos Heróis da Retirada da Laguna.   O que este Relatório registra como informações históricas é o encontro de Rondon com os filhos do Guia Lopes, o Bernardino Francisco Lopes e José Francisco Lopes.

            Nas descrições que foram deixadas por Rondon sobre cada local que passou dá nos grandes registros de história, geografia, geologia, hidrografia, cartografia sobre os ambientes.

1.     O Porquê da Opção pelo caminho da cidade de Nioaque?

            “Quando[2] cogitava acerca do melhor traçado a adotar para a construção deste ramal, verifiquei que duas localidades havia em condições de concorrer para a escolha do ponto intermédio entre Aquidauana e Porto Murtinho.  Assim que a linha podia passar por Miranda ou por Nioaque.

            No intuito de  determinar os motivos de preferência nessa escolha encetei no dia 27 de maio de 1904 um reconhecimento para Porto Murtinho partindo da Vila de Miranda e daquele porto para Nioaque  e Aquidauana, atendendo  a que já havia sido feito um levantamento deste ponto à mesma Vila.  Em virtude deste reconhecimento, verifiquei que de Miranda a Porto Murtinho há 284 km e 739 m e que de Porto Murtinho à Nioaque existem 272 km e 529 m.     O critério nessa escolha consistia na menor distancia e maior facilidade de construção.

            Ora, pelos algarismos citados se vê que incontestavelmente o menor percurso seria feito de Nioaque para Porto Murtinho, alem disso o terreno nesse trecho oferecia maior facilidade de construção, porquanto ali se encontram extensos campos, o que facilitaria a abertura do picadão.

Decidiu-se então adotar o traçado  da construção da linha Telegráfica ligando de Aquidauana à Nioaque, considerando  o reconhecimento total executado de Miranda a Porto Murtinho e daí a Nioaque e a Aquidauana compreendeu a extensão  de 651 km e 169 m inclusive a de 83 km e 901 m compreendendo entre Nioaque e  Aquidauana.

2. Inicio da construção do ramal da linha telegráfica Aquidauana - Nioaque

            A construção do ramal de Aquidauana a Porto Murtinho  teve início no dia 16 de Agosto de 1904 e a tingindo a cidade de Nioaque no dia 11 de Outubro do mesmo ano. Com 77    km e 306 m de extensão de linha.    O terreno não só de Aquidauana a Nioaque como daquele ponto a Miranda é de aluvião apresentando este último trecho acidentado mais pronunciado.    A vegetação é de cerradão semeado de capões e vazantes sendo algumas  destas almargens. .

           A partir de  Aquidauana a linha foi duplicada até o  poste nº 13 em que foi feito o entroncamento das linhas de Miranda e Nioaque.  Com rumo de 5º ao SO a linha cortou a estrada duas vezes e um córrego, antes de passar pela fazenda Laranjal, de propriedade do Capitão Delfino, distante da margem esquerda do Aquidauana, na Vila 11.995, 60m.  Pequeno criador cerca de 500  rezes.  
            No mesmo rumo e a 1 km e 047 m para  frente, a linha cortou o rio Taquarussu, transpondo-o novamente a 2.526,06 m deste ponto a 20.937,40 m para diante atravessou a Lagoa Caveira de Anta, situada em pleno cerradão e contornada por vegetação mais espessa sob o aspecto de capão.    Da referida Lagoa prossegue o picadão e a 10.810 m desse mesmo ponto corta uma estrada e atravessa o córrego do Guaxupé continuando sempre por cerradão.

            A linha segue essa estrada paralelamente até transpô-la, além do córrego das Areais, que dista do Guaxupé 5.608 m.    O córrego Rapadura foi transposto a 4.630 m além do das Areias; e o do Lajeado a 5 km 933m daquele, onde se encontra um morador, que ficou a esquerda .

            O córrego da Formiga foi atravessado a 3.091 m na frente e 3.962 m além da Formiga terminou a tangente de 69 km e 145 m, a partir  do Entroncamento com a linha de Miranda.

3. A chegada da Linha Telegráfica em Nioaque

             Com rumo de 34º a Sudeste e a 2.592 metros a picada cortou o Ribeirão Urumbeva, deflexionando ao para a Direita com rumo de 34º e 30’ a Sudoeste, com a qual seguiu até ganhar a esquina da Praça em Nioaque a 842 metros da curva do Urumbeva.

            Nova deflexão para a direita foi dada e no rumo de 80º e 40’ a Sudoeste entrou a linha na Praça da Vila até a Estação, medindo da curva da esquina até aí 342 metros. 

Todo esse feito ocorreu no dia 11 de outubro de 1904.

            No dia 12 de outubro de 1905 foi oficialmente inaugurada a Estação Telegráfica de Nioaque o que foi comemorada com muita alegria.

Imagem Estação Telegráfica de Nioaque inaugurada em 12 de outubro de 1905. Imagem créditos do autor) Relatórios de Rondon


4. Construção da linha telegráfica entre Nioaque e a Fazenda Jardim

            A Construção continuou de Nioaque a Fazenda Jardim e daí em direção a Margarida, percurso percorrido entre 13 de outubro de 1904 a 13 de março de 1905.   Neste trecho foi traçada a terceira grande tangente de 63 km e 834 m da Fazenda Jardim aos morrinhos na proximidade de Margarida.

            A linha atravessou o rio Nioaque que tem 19 metros de largura nesse ponto a 3.925 metros da Estação e o Rio Canindé a 13.765metros daquele mesmo ponto.   O terreno compreendido por este trecho é plano e constituído de várzeas, de sedimentos quaternários, predominando a argila arenosa na camada mais superficial.   A superfície dos rios é constituída de seixos rolados principalmente de sílex e ágata.    Sob a camada de argila ferruginosa, deve existir outra calcária, extremada de argila xistosa e arenito. As águas do Nioaque e Canindé são sensivelmente  salinas.   A confluência dos dois rios fica abaixo do passo do Nioaque e acima da Vila do mesmo nome.

            Entre o rio Canindé e o rio Miranda, na Fazenda do Jardim a linha cortou um cerradão, que em muitos pontos se apresenta sob a forma de capão e transpôs apenas um córrego e uma cabeceira.   Com muita propriedade o celebrado guia José Francisco Lopes deu a sua Fazenda o nome de Jardim.

            De um e outro lado do rio Miranda, nessa paragem o terreno oferece um encanto extraordinário.   São lombas, cômoros espalhados que existem sobre um campo aberto.  De permeio estendem-se também ali conhecidos pelo nome de ilhas.

            Esparsas pelos campos em todas as direções as rezes ostentavam as mais variegadas  cores, pastando aqui e acolá.   Habita ainda essa mesma fazenda, que antes da Guerra já era de propriedade do seu marido,  o citado Guia Lopes a legendária D. Senhorinha Maria Conceição Barbosa de Lopes, que fora duas vezes prisioneira dos Paraguaios, antes e durante a invasão do solo mato-grossense.

            O laranjal que salvou o resto da Expedição na Retirada da Laguna, já não existe, há poucos anos extinguiram-se os últimos arvoredos de que ainda encontramos esqueletos secos, avivando em nós recordações saudosas   dos que ali sucumbiram vítimas do inimigo, os paraguaios e da peste, o cólera.

            Situados em derredor da habitação da  legendária matrona D. Senhorinha, estavam então dois dos seus filhos o João Francisco Lopes e Bernardino Francisco Lopes.   O primeiro, João, fora assassinado tempos depois por um seu vizinho, em 21 de maio de 1905  Os dois outros filhos dessa enérgica matrona de nomes José


 ESQUEMA DAS LINHAS TELEGRÁFICAS DO ESTADO DE MATO GROSSO EM 1911. Relatórios de Rondon




Francisco Lopes e Pedro José Lopes habitam terrenos mais afastados, onde se estabeleceram com a sua prole.

            A participação dos filhos do Guia Lopes na construção das linhas telegráficas foi muito significativa considerando serem eles os maiores conhecedores e desbravadores das terras nesta região sudoeste. Escreveu Rondon que José Francisco Lopes, o penúltimo dos filhos do Guia foi vaqueano da 1ª Seção na exploração parcial efetuada pelo Capitão Ávila, do Passo do Jardim ao da Ariranha e para os campos de Santa Eufrásia.   O Pedro José Lopes serviu de prático no trecho da fazenda do Campeiro a Campo Grande, por ocasião do reconhecimento que efetuou de Bela Vista para Ponta Porá, Vacaria e Campo Grande.

5. Da Fazenda Jardim à Margarida

            Depois da estada na Fazenda Jardim, no atual município de Guia Lopes, atravessou o passo do rio Miranda nas mediações ao Cemitério dos Heróis da Retirada da Laguna, hoje município de Jardim rumo a Porto Murtinho.    A construção da linha do Jardim para Margarida correu a princípio por um cerradão, cruzando depois campo aberto até os morrinhos da Margarida.  Atravessou oito correntes até Rio Verde que dista do Miranda 28 km e 912 m; daí para frente transpôs o ribeirão da Caiera a 20.653m.   Esse ribeirão é a cabeceira principal do rio Piripucu ou rio da Pedra de Cal, que deságua no Rio Apa, defrontando o morro de Margarida.  Antes da  Caieira passa-se pelos córregos do Carro Quebrado e Jaboti, vendo-se a esquerda um morrinho também assim denominado.  Antes e depois do Córrego da Caieira a tangente referida atravessou dois brejos de forma circular, onde os postes foram fincados com escoaras.

            Todo o Terreno desde  a Fazenda Jardim até Margarida forma extenso lençol calcário, limitado ao Norte  pelo contraforte da Pederneira e ao Sul pelo rio Apa.   Nessa Zona são encontradas à superfície dos campos, pedreiras consideráveis  como as que existem entre o ribeirão da Caieira e os morrinhos de Margarida.  Aí lutamos com séries dificuldades para conseguir o fincamento dos postes, mesmo quando era aplicada a dinamite.

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 “A Estação Telegráfica de Nioaque, estava integrada a 2ª.”. Linha que interligava Aquidauna à São Carlos, com 285,460 metros de desenvolvimento, compreendia as estações de Nioac, Margarida e São Carlos.

TELÉGRAFO

“Estação telegráfica criada no dia 12 de outubro de 1904. A Estação Telegráfica de Nioac estava integrada  a 2º linha que interligava Aquidauana a San Carlos. Pertencia ao segundo distrito, criado em 1911 e com sede em Aquidauana”.

      





[1] Relatório dos trabalhos realizados de 1900-1906 pela comissão de Linhas Telegráficas de Estado de Mato Grosso, apresentado as autoridades do Ministério da Guerra, pelo Major Eng. Candido Mariano da Silva  Rondon, Edição de 1949, Departamento de Imprensa Nacional – RJ, p.9.
[2] Op. Cit. P.84-89.

Um comentário:

  1. Muito esclarecedora sua postagem, além de fixar para as novas gerações o que foi o patriótico serviço que Rondon e sua equipe prestaram com bravura à nação, num tempo em que inexistiam comunicações.

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