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sábado, 16 de abril de 2016

CONTEXTO HISTÓRICO EDUCACIONAL 1850 - 1900


CAPÍTULO IX


Prédio onde funcionou a Escola Publica Mista “Antonio Correa”,  na Década de 1890 em Nioaque. Arquivo do Autor. Atualmente esquina ente a Avenida General Klinger e a Quintino Bocaiuva, esquina com a Praça.


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9 Introdução


Tal como qualquer outra cidade do interior, a educação sempre foi uma das áreas mais complexas de todas as estruturas sociais e administrativas dos governantes públicos.

Assim, para compreender as questões educacionais de Nioaque, temos alguns poucos registros e os mesmos são posteriores ao ano de 1880.

No período em que se sucedeu entre 1850 a 1883, não se possuem registros da existência  de Escola Pública na Freguesia de Nioaque, uma das posições que se detém  sobre a educação escolar, é que estava aos cuidados das famílias. Pagava-se um professor e este era incumbido de oferecer os rendimentos da aprendizagem da linguagem escrita, da leitura e da aritmética, informações estas que não apresentam as finalidades de aprovação ou  reprovação do aluno.

Assim sendo, de acordo com a estrutura econômica  das famílias, pagava-se um professor  particular para ensinar na própria fazenda ou na Freguesia. Algumas vezes as famílias se  agrupavam para a manutenção de uma pessoa que pudesse lecionar para um grupo de alunos.

Os que se encontravam em situação econômica melhor, depois de alfabetizados, encaminhavam os seus filhos para as cidades maiores: Miranda, Cuiabá, Rio de Janeiro.

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9.1  Educação no Período Imperial

Muito embora, Nioaque tenha sido elevada a Categoria de Freguesia em 1877, do Município da Vila de Miranda não sofreu alteração no processo educacional, uma vez que a própria Vila de Miranda, por sua enorme extensão e a escassez de recursos, pouco podia fazer por si e pelos seus distritos.

O primeiro registro sobre a criação de Escola Pública é do ano de 1883, no Artigo 2.º da Lei Provincial[1] n.º 612 de 7 de Junho, assinada pelo Barão de Batovy, Presidente e Comandante das Armas da Província de Mato Grosso, eis na íntegra

“Artigo 2.º - Fica creado uma cadeira de instrucção primaria para ambos os sexos  na mesma freguesia (Nioac);

Artigo 3.º - O professor nomeado para reger a mesma cadeira perceberá o ordenado anual de 600$000 (seiscentos mil réis) e a gratificação de 200$000 (duzentos mil réis) , revogando as disposições em contrario.”
Esta escola funcionou em uma das salas de um prédio alugado para este fim.

Fecha-se assim o período Imperial e Provincial em 1889, com uma insuficiência extremamente grande no sistema educacional: a extensão do Município de Miranda, a maioria da população estava concentrada na zona rural, nas fazendas distantes uma das outras e dos centros urbanos, na vasta região sul mato-grossense.

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9.2 Sistema Educacional no período Republicano – 1889/1900


 Em 1889, 15 de novembro, com a mudança  nas estruturas governamentais, preparou-se com a Forma Republicana um sistema federativo e tivemos que partir da Primeira Constituição Republicana alguns elementos norteados nas diretrizes e bases da Educação Nacional, assim expressa[2]:

“A Carta de 24 de Fevereiro de 1891 era muito parcimoniosa em relação à cultura e ao ensino  o que não é de se estranhar, considerando que o regime federativo por ela consagrado fundamentava-se no princípio dos poderes residuais e por isto facultava aos Estados “em geral, todo e qualquer poder ou direito” que não lhes fosse negado “por cláusula expressa ou explicitamente contida nas cláusulas expressas da Constituição” (art. 65, n.º 2) ; e salvo algumas poucas disposições relativas ao ensino, subentendia-se  que às unidades da Federação cabia à responsabilidade de organização, manter e fiscalizar os respectivos sistemas públicos de instrução. Ausentava-se a União, pela do que  hoje nos parece ser um dever indeclinável, ausência compreensível, entretanto, em razão dos ideias de liberdade que informavam os  chamados países democráticos do século XX, e que  atuaram em larga medida, na elaboração daquela Carta Constitucional. Em outras palavras e a despeito dos esforços práticos que outras Nações mais adiantadas, especialmente da Europa, vinham realizando no sentido da educação popular, prevaleceu para a Constituinte de 1891 a idéia de um poder central que, sobre a base de uma organização federativa, haveria de limitar-se ao poder de polícia, garantidor dos direitos e das liberdades individuais, sem intervir no processo econômico e social”.

Depois deste breve contexto político, vamos aos acontecimentos em Nioaque. Com a criação do Município em 18 de Julho de 1890, coube ao Conselho da Intendência Municipal a organizar  e administrar o ensino público.

Havia dois órgãos mantenedores de Ensino: O Estadual e o Municipal. O Estadual mantinha a Escola Pública Mista na Vila de Nioaque, criada em 1883 e o Município mantinham  as Escolas Públicas criadas nos Distritos Municipais e que a sua  grande maioria fora no princípio destinada aos alunos do sexo masculino.

Alguns registros[3] referentes há esta década:
 “O ordenado do Professor Primario da Escola Publica Mista de Nioac, de acordo com o Decreto Estadual n.º 1 de 25 de Janeiro de 1890 Rs. 400$000(quatrocentos mil réis). Esta escola denominava-se Corrêa da Costa.

As denominações Escolas Mistas ou Ambos os sexos – Escola para o sexo masculino e feminino. Face aos costumes da época não se colocavam meninos e meninas estudarem juntos na mesma sala ou Escola. A Escola Mista, reunião meninos e meninas na mesma sala, porém sentava-se em seções separadas; Escola Masculina – Reunia-se apenas alunos do sexo masculino e normalmente os professores eram também do sexo masculino; Escola Feminina – reunia apenas alunos do sexo feminino e era normalmente uma professora que lecionava. Este costume está ligado ao fato de que no princípio, as escolas destinavam-se somente para homens e a permissão para mulheres foi bem posterior; também houve a influência dos Colégios da Igreja Católica, onde eram discriminados por sexo: masculino, dos Padres e femininos, das Freiras.

A primeira Escola Pública criada em Nioaque (sede) era mista e as demais construídas eram de seções masculinas conforme registro da época.    No Orçamento[4] do Exercício do ano de 1893, previa-se os seguintes gastos educacionais em toda a área do Município:
   

a)      Gasto com aluguel  para prédio da Escola de Nioaque- Rs. 300$000;

b) para a freguesia de Santo Antonio de Campo Grande, com o ordenado do professor de instrução primária Rs. 1:000$000 e para o aluguel do prédio da Escola Rs. 120$000;

 c) para os Distritos de Vacaria, Bela Vista, Dourados e Ponta Porã, ordenado do professor de instrução primária Rs. 1:000$000 (um conto, um mil réis) para cada um e com aluguel do prédio onde  funcionará a escola Rs. 120$000 para cada uma;

d) Para livros, pena, tinta, papel para as Escolas públicas, Rs 500$000; para bancos e mesas para as mesmas, Rs 300$000.

As informações sobre as primeiras escolas criadas pela Intendência Municipal estão contidas no orçamento[5] de 1893, na Resolução n.º 2, do Capítulo 4. O que é interessante ressaltar, que estas cinco escolas destinaram somente para atender os alunos do sexo masculino, conforme se verá abaixo[6]:

“Fica creado neste Municipio cinco escolas do sexo masculino,  sendo uma nesta Villa, uma na freguesia de Santo Antonio de Campo Grande, uma no Distrito de Bella Vista, uma  nos Districtos  de Dourados e Ponta Poran e outra no Districto de Vacaria.

§ 1.º - Estas Escolas serão constituidas de conformidade com o § 1.º do Artigo 2.º.

§ 2.º - Os funcionarios da mesma perceberão os vencimentos constantes no § 1.º n.ºs. 9.10.12.14;

§ 3.º - os pretendentes das cadeiras prestarão os devidos exames de conformidade com os estatutos que a camara organizará”.

A preocupação com a cultura, também se fez manifestar no ano de 1897,  com a criação do primeiro “Gabinete de Leitura” – Biblioteca, era organizado por uma associação filantrópica e que tinha o objetivo de proporcionar a criação de um local que oferecesse apoio à cultura e promovesse o desenvolvimento de cidadão intelectual.


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Esse Gabinete e Leitura, como era denominado, foram dados execução logo após a sua fundação e que por falta de local apropriado, ficou funcionando numa pequena sala na residência do Presidente. A duração foi efêmera, pouco mais de dois anos e por falta de apoio das  autoridades administrativas e de um local específico e com o fim da própria associação, o Gabinete de Leitura foi destituído.

Segundo Estevão de Mendonça, em “Datas Mato Grossenses”, a primeira diretoria recaiu sobre os seguintes cidadãos:

Dr. João Ribeiro de Castro - Presidente;
Octavio Ferreira de Mascarenhas - Vice Presidente;
Carlos Luiz de Lima Bastos - 1.º Secretário;
André de Albuquerque - 2.º Secretário;
David de Medeiros       - Tesoureiro.

A situação educacional do Município esteve crivada de dificuldades, não somente pela falta de recursos humana, mas, sobretudo pela falta de infra-estrutura, por exemplo: prédios apropriados para o funcionamento dos estabelecimentos de ensino. A prova é tão contundente, que o primeiro prédio construído em Nioaque especificamente projetado para estabelecimento escolar, aconteceu somente no ano de 1945·; a falta de recursos financeiros, sempre foi o principal entrave ao desenvolvimento do ensino, revendo ofícios e relatório deste período pode comprovar esta situação.
A seguir no relatório da Câmara Municipal, nos oferece uma visão global sobre a instrução pública[7].  Entre outros dados que pode ser colhido estão:

¨      A extensão do Município;
¨      A falta de prédio adequado;
¨      Falta de recursos financeiros;
¨      Uma única escola publica paga pelo Estado;
¨      O nome da professora Dona Maria da Conceição d’Oliveira Netta;
¨      Nos Distritos e fazenda, apoio e esforço dos habitantes locais;
¨      Cooperação do Médico Dr. Antonio José de Castro;
¨      Elevado numero de analfabetos e jovens fora da escola;
¨      Preocupação com a escolarização dos meninos;
¨      Estimativa de 800 meninos em idade escolar e que se encontram fora da escola.


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Instrucção Publica[8] – Grandissimos são os desejos d’esta Camara de cooperar para o desenvolvimento e aperfeiçoamento da Instrucção da Juventude do Municipio.

A construção de um estabelecimento, escola municipal, que tantos beneficios traria para o ensino da mocidade, tem sido objecto de constante d’esta Camara e de ha muito se teria realizado, à não ser a deficiencia de fundos, de que actualmente dispões e que mal chega para os gastos geraes e de supra attenção, conforme vos ofereço a prova com o balancete junto. Em todo o Municipio só existe uma Escola Mista, costeada pelo estado, dirigida pela incansavel e honesta professora Dona Maria da Conceição d’Oliveira Netta, a qual lecciona de modo  satisfatorio em relação as difficuldades com que luta.

Há em outros pontos do Municipio algumas escolas, estas funciona com os esforços dos habitantes locaes, mas sem constancia e em vista d’isto, sinto dizer que a instrucção publica se encontra em grao muito atrazada n’este Municipio, contribuindo para isso a sua vasta extenção e dessiminação de seos habitantes e esta Camara com toda franqueza nada pode fazer a respeito de fundos.

A Escola d’esta Villa é bem frequentada e os discipulos mostram aproveitamento.

Deve o ensino primario muito a cooperação efficaz e gratuita ao prestimoso cidadão Dr. Antonio José de Castro, que promove por todos os meios o desenvolvimento da mocidade Nioaquense, já leccionando particularmente, já auxiliado a dignissima professora, tornando-se por isso, merecedor da gratidão e louvor da publica administração.

Outras necessidades, allias imperiosas é a do recenseamento escolar, por meio do qual se poderia melhorar avaliar a grande quantidade de analphabetos e o grande abandono que jazem muitos meninos d’este Municipio, pela ausencia das escolas primarias.

Entretanto, creio não errar muito affirmar de que não a andára longe de oitocentos o numero de crianças aptas para frequentar escolas.

Chama-se para este magno assumpto a esclarecida attenção de Vosso Excelencia”.

E finalizando, o ensino atendia apenas os níveis fundamentais das quatro séries – 1.º a 4.º ano primário, onde apenas alguns poucos privilegiados  freqüentavam escola, as distâncias entre as fazendas e os núcleos urbanos, falta de professores, falta de escolas, falta de recursos financeiros, o resultado não poderia ter sido outro: déficit escolar.






[1] Cópia da Lei 612/1883 - do Arquivo Público de Mato Grosso- Cuiabá- MT. 1985.
[2] Diretrizes e Base: da Educação Nacional - Ensino e Liberdade – João Eduardo Rodrigues Villalobo – Biblioteca Pioneira de Ciências Sociais – Cap. I
[3] Consultar o Anexo 3 – Atividades Econômicas, Orçamento 1893.
[4] Cap. 2, art. 2.º, § 2.º, n.º 8 a 20 – Relatório/Orçamento – 1893

[5] Anexo Histórico 2.
[6] Do Cap. 4 Res. 2, § 1 a 3 – Orçamento/Exercício – 1893. Arquivo Público de Mato Grosso, Cuiabá, 1985.

[7] Relatório de 1894 “Instrucção Publica” no Município de Nioac.
[8] Anexo Histórico 8.

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